Maria La Salete, transplantada de coração e pulmões, espera há quatro anos por uma habitação social da Câmara de Gondomar. O desespero agudizou-se agora, porque o senhorio tem pedido com insistência para que deixe o local onde vive atualmente e La Salete não tem alternativa. A Autarquia garante que a munícipe terá uma habitação "tão cedo quanto possível".
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Em 1993, Maria La Salete foi diagnosticada com hipertensão pulmonar, associada a cardiopatia congênita, uma patologia que a obrigou a ser transplantada sete anos mais tarde. Após a operação, os "anos que se seguiram não foram amigáveis" para a doente que vive, desde então, com um atestado de incapacidade permanente e global de 80%.
Sem trabalhar e a "sobreviver" com rendimentos baixos, a gondomarense, que entretanto se divorciou, viu a casa ser penhorada pelo banco em 2011. Nessa altura, o atual senhorio foi uma ajuda providencial: "Abriu-me as portas desta cave [adaptada para habitação] depois de saber da minha situação".
Nesse mesmo ano, Maria La Salete formalizou um primeiro pedido de habitação social que recebeu uma resposta negativa, justificada pelo "número elevado de pedidos e a falta de habitações disponíveis". O processo seria extinto em 2012, devido a desistência da munícipe.
Desde essa altura que La Salete vive na cave transformada em habitação, em S. Cosme. A estadia que era para ser breve prolongou-se por vários anos. Mas agora, o senhorio necessita daquele espaço para a filha e o neto.
Em 2018, Maria La Salete fez novo pedido à Câmara, repetindo-o meses depois, já em 2019, corrigindo a morada. Isso levou a nova apreciação da Autarquia, o que só foi feito em 2021. A resposta chegou em junho deste ano.
"Confirmamos que a candidatura é de elemento isolado, debilitante em termos de saúde, com atestado de incapacidade permanente e global de 80%. Tendo sido a candidatura considerada válida, estará em condições de ser elegível a uma habitação, tão cedo quanto for possível", explicou a Câmara, questionada pelo JN. A Autarquia diz estar empenhada "em trabalhar para responder sempre nas melhores condições aos pedidos de habitação pública que todos os dias chegam".
Maria La Salete vive com recomendações médicas de "levar uma vida calma e plena, evitando situações que a possam levar à exaustão". Incapacitada para trabalhar, os rendimentos "que pouco ultrapassam os 500 euros" não lhe permitem pensar em alternativas.
DETALHES
Ficou sem casa
Maria La Salete separou-se do marido anos depois da operação, e casa foi-lhe retirada pelo Banco Santander por endividamento, em 2011.
Processo complexo
O primeiro pedido de casa data de 2011. O processo foi extinto por desistência. O segundo pedido é de 2018, mas Maria La Salete deu a morada do irmão. Teve de formalizar novo pedido, em 2019, com a morada do local onde vive. E o processo foi de novo avaliado, mas só dois anos depois.
Número de habitações
O município de Gondomar tem 3341 habitações sociais (de T1 a T4). Espalhadas por 12 freguesias, São Pedro da Cova é a que tem mais: 938.