A escala de junho ainda tem turnos em aberto porque saíram cinco médicos. Solução mais próxima é Coimbra, a 90 quilómetros.
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A urgência pediátrica do Hospital de Viseu está em risco de encerrar, durante o período noturno, já no próximo mês de junho. Uma situação que se agravou com a saída de cinco especialistas. "Quatro saíram para hospitais centrais e uma pediatra foi para o privado", revelou este sábado ao JN o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), Manuel Teixeira. Parte da equipa de pediatras do Centro Hospitalar Tondela-Viseu (CHTV) tem mais de 50 anos, o que os torna isentos de fazer noites. Ao mesmo tempo, a administração do CHTV debate-se em contratar.
O CHTV confirma ao JN que "há dificuldades na realização da escala de pediatria por falta de recursos humanos, mas neste momento não esta confirmado nenhum encerramento". No entanto, sem profissionais, o fecho do serviço noturno é cada vez mais certo, mesmo que pontual.
"Estão a tentar encontrar, junto dos outros hospitais da região, soluções de rede que possam colmatar esta falta, ao mesmo tempo que tentam fazer a contratação de médicos em prestação de serviços", explicou Manuel Teixeira, que se confessa "preocupado".
"Havendo noites que não estão cobertas durante o próximo mês, os cuidados não serão os melhores nesta área da pediatria. Além do mais, os obstetras precisam de pediatras nos nascimentos", lembra o representante da Ordem.
O hospital tem concurso aberto para dois pediatras, mas não há candidatos. O que quer dizer que as crianças que necessitem de recorrer à urgência, à noite, a partir do próximo mês, correm o risco de ser transportadas para Coimbra.
Mas não são só as crianças de Viseu que podem ter de enfrentar este constrangimento. O CHTV é uma referência para a Unidade de Saúde Local da Guarda em várias especialidades, como a urgência obstétrica e pediátrica.
"Fazem festas e fecha?"
O presidente da Câmara de Viseu, Fernando Ruas, está "preocupado, triste e desolado" com a possibilidade do encerramento do serviço e atira culpas ao Governo. "Andaram-nos a prometer uma urgência nova, fizeram mil e uma festas com a inauguração, e depois não temos urgência pediátrica? Agora, por falta de médicos. Toda a gente se queixa da natalidade e não se criam as condições para que as crianças nasçam em condições dignas?", questionou hoje o autarca.
No caso do hospital de Viseu não conseguir "tapar os buracos" noturnos de junho da urgência pediátrica, a solução mais próxima para os utentes é Coimbra, a 90 quilómetros, pelo IP3, em obras há anos.
"Eu diria que não são 90 quilómetros. O presidente da República quando veio inaugurar a Feira de São Mateus não quis vir pelo IP3 por ser perigoso. Portanto, não vamos aconselhar uma grávida ou uma criança a ir por uma estrada perigosa", remata o edil, que segunda-feira vai falar com o ministro da Saúde para lhe dizer "que isto assim não pode ser".
Atinge a Guarda
No caso das crianças da Guarda, a solução torna-se ainda mais distante. Para a Ordem dos Médicos, terá de existir uma articulação entre as duas unidades hospitalares. Manuel Teixeira defende que as urgências pediátricas noturnas de Viseu e Guarda não fechem nos mesmos períodos de forma a que as crianças da Guarda não tenham que fazer 170 quilómetros para se deslocar a Coimbra.