O café Guerreiro, na Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, em Viana do Castelo, encerrou na quinta-feira, mas as portas continuam abertas.
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Lá dentro está ainda gente a trabalhar para desmantelar a casa. E a receber os abraços e as palavras de conforto que clientes e amigos ali vão deixar, num entra e sai constante.
"Deixa-me dar aqui um abraço", diz um antigo cliente enlaçando Samuel Matos, de 65 anos, proprietário do café que funcionava no rés do chão de um edifício semidevoluto na principal avenida de Viana. O imóvel foi comprado e vai ser transformado num empreendimento imobiliário.
O empresário está agora a tratar de esvaziar o espaço para no dia 29 entregar a chave. Conta que viveu ali "50 anos da sua vida" e que viu cair por terra o plano de "deixar o negócio aos dois filhos de 37 e 31 anos". Indigna-se com "a lei atual que permite que seja posto na rua apenas com dois anos de rendas e 50% do valor que investiu em obras". E chora o fim de um café que, lembra, "até foi proposto para classificação como Loja Memória", no âmbito de um projeto criado em 2017 pela Câmara.
Natural de Ponte de Lima, Samuel começou a trabalhar naquele edifício, na antiga Casa Guerreiro, com 15 anos. Ali funcionava então, em 1970, uma residencial com restaurante e café. "Cheguei aqui só com os sapatos e a roupa", recorda.
Em 1984, comprou ao antigo patrão "o passe da casa por 4000 contos (20 mil euros)" e tornou-se empresário.
O café prosperou e ganhou fama a sua sangria. No dia de encerramento a casa encheu "com centenas de pessoas numa festa de despedida". " Se me dessem a escolher entre ficar e uma grande quantia, preferia ficar", conclui.
Projeto
Apartamentos, um restaurante e duas lojas
O edifício da antiga Casa Guerreiro será convertido num empreendimento com nove apartamentos, um restaurante e duas lojas. Luís Nobre, vereador da Câmara, adiantou ao JN que o referido imóvel será alvo de um projeto de reabilitação. o presidente da Câmara, José Maria Costa, adiantou à Lusa tratar-se de "um investimento de mais de meio milhão de euros", que valorizará o Centro Histórico".