O povo de Vila Chã está farto de esperar que as autoridades lhe acabem com o desassossego de ter de conviver com "um ladrão", a quem chamam Zé Carroças. Segundo se diz, só ainda não terá assaltado três das casas desta aldeia de Mondim de Basto.
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Além das queixas apresentadas na GNR, houve quem espalhasse por todo o concelho, e até fora dele, panfletos plastificados que denunciam a atividade do indivíduo e prometem justiça contra quem lhe compra o produto dos furtos.
Teresa Fraga desconhece a autoria dos papéis, mas louva a atitude. Vive perto da casa do presumível ladrão e lida com este "martírio" há cerca de dois anos.
"Ando atormentada porque, há dias, puxou por uma foice e disse que me matava". Isto já foi depois de lhe ter entrado em casa, por cinco vezes, tendo-lhe levado "25 litros de azeite, 550 euros em dinheiro, partes do alambique em cobre, um presunto e uma pá de porco". A mulher tem problemas de saúde, vive com a mãe de 81 anos, e cultiva alguns terrenos "para conseguir sobreviver". Dificuldades que são agravadas pelas constantes investidas do Zé Carroças, com idade a rondar os 50 anos.
Joias, salpicões e chouriços
No passado mês de janeiro, a vizinha Teresa Costa ficou sem 500 euros que tinha arrecadados em três sítios distintos dentro de uma cómoda. "Dinheiro que me fazia falta para o meu governo", lastima-se. A Fátima Costa furtou-lhe "uma caixa de joias", diz, entre outras coisas. Contabiliza os prejuízos em "cerca de 25 mil euros". E Emília Carvalho desconfia que foi Zé Carroças que, no final de dezembro, lhe levou "todo o estendal de várias dezenas de salpicões e chouriços".
Diz-se por Vila Chã que o ladrão consegue entrar e sair das casas sem deixar vestígios. Há mesmo quem suspeite que ele tenha "as chaves da maior parte das portas da aldeia".
Na vizinha povoação de Bilhó também há queixas. Um morador de 80 anos ficou sem uma motosserra. Num dos cafés fala-se da estatueta de bronze furtada do jardim de um emigrante e das três sinetas retiradas de outras tantas capelas.
E se ninguém tem dúvidas da autoria, também não as têm sobre "a rede que aqui atua". "Ele não faz isto sozinho", nota mais um habitante de Bilhó, que garante que "ele rouba nas casas, mas despacha logo o produto para outras pessoas".
O povo desespera, mesmo compreendendo que não seja fácil meter o homem na cadeia. Resta a mágoa de Teresa Fraga: "Ficamos sem as coisas e ainda somos maltratadas. Não sei onde isto vai parar".