Ator, de 22 anos, interpreta um jovem regressado do Ultramar que assiste à morte do melhor amigo em “Revolução (sem) sangue”. Amante de desporto, deixou para trás o sonho de ser futebolista, devido a uma lesão.
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A caminho dos 23 anos, João Bettencourt faz parte da nova geração de atores em Portugal. No cinema, mostra-se agora no papel de Tomás no filme “Revolução (sem) sangue”, que lhe permitiu conhecer um outro lado da história sobre o fim do regime, há 50 anos, no nosso país.
“É uma história interessante que fui ver com o meu avô”, conta ao JN. Ao lado de quem viveu a revolução em tempo real, mas “já não se lembrava dos quatro mortos nesse dia”, o intérprete assistiu ao próprio trabalho. “Para mim, foi muito importante, enquanto ator e enquanto pessoa também poder informar mais sobre um momento que foi tão trágico”, confessa.
A sua personagem retrata “um jovem que tinha tudo, que tinha uma família, tinha já trabalho, tinha 20 anos, já tinha a sua vida organizada, e foi convocado para ir para a guerra colonial do Ultramar”, resume.
Na preparação, ouviu as histórias do tio da namorad”. Além disso, "vi bastantes documentários sobre as pessoas que estiveram no Ultramar, e também me baseei muito na Segunda Guerra Mundial, porque são imagens muito fortes”, acrescenta.
Alguém ao lado
Na ficção, vê o melhor amigo ser assassinado pela PIDE, mostrando o quanto “é muito importante termos alguém do nosso lado, seja um amigo, seja conhecido, seja família, nos momentos mais difíceis”.
Atualmente, num registo diferente, João Bettencourt é protagonista da série “Eleitos”, na OPTO, que aborda a realidade dos atletas de competição em Portugal, “que poucos conhecem”.
Ele é o atleta de triatlo Ivo Pinto, o que não custou muito, pois o desporto faz há muito parte da sua vida. Assim, o mais difícil, como nota, foi o ritmo intenso de gravações: “Como era o protagonista, entrava às oito da manhã e saíamos às sete e meia… O mais complicado foi mesmo ter a oportunidade de ir ao ginásio e manter-me bem fisicamente e conciliar isso com o estudo do personagem”.
Dos golos para os guiões
Ironicamente, o ator foi obrigado a abandonar o futebol após romper os ligamentos do tornozelo. “Foi muito difícil essa recuperação e depois também tinha uns problemas de saúde que não me permitiam estar tranquilo a jogar futebol”, recorda.
Na altura, preparava-se para a universidade, ainda sem saber o que seguir. Então, “de repente, decidi ir fazer um casting à Plural para figuração”, relata. Durante pouco mais de um ano foi o que fez à frente das câmaras, até que surgiu a oportunidade de fazer um pequeno papel na novela “Corda Bamba” (TVI).
Traduziu-se numa cena, que lhe apontou o caminho, pela mão de Fernanda Boto, do departamento de casting da Plural, que o indicou a uma agente e à Academia do Mundo das Artes onde estudou. Não tardou a dar vida a Lucas em “Amor Amor” (SIC) antes de ser o homossexual Matias em “Quero é viver" (TVI), através do qual percebeu uma maior abertura da sociedade.
João não se arrepende de ter apostado na representação, certo que “foi a melhor decisão” da sua vida. Ainda muito jovem, tem a ambição “de ir para o mercado espanhol”, assente na premissa de “ficar cada vez melhor e ter trabalhos que desafiem”. “Depois as coisas vão acontecendo” por cá ou no estrangeiro, reconhece, adiantando que tem um projeto em teatro, sobre o qual é cedo para falar.