Testemunhas confirmam cancelamento de contratos com os Anjos após vídeo de Joana Marques
O vídeo da humorista Joana Marques satirizou a atuação dos Anjos a cantar o hino nacional antes do MotoGP, em Portimão, gerando polémica e perdas comerciais para a banda. Os empresários rescindiram os contratos com os irmãos, alegando receio de má publicidade, após o conteúdo se tornar viral.
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O julgamento do processo que opõe os irmãos Nélson e Sérgio Rosado, da banda Anjos, à humorista Joana Marques, prossegue esta quarta-feira no Palácio da Justiça, em Lisboa.
Em causa está um vídeo publicado por Joana Marques nas redes sociais, em abril de 2022, onde satiriza a atuação dos músicos no arranque do MotoGP de Portimão. A dupla pede uma indemnização superior a 1,1 milhões de euros, alegando danos patrimoniais e não patrimoniais.
Durante a manhã, no Juízo Central Cível, foram ouvidas várias testemunhas arroladas pelos irmãos Rosado. Nuno Feist, maestro, foi o primeiro a depor e defendeu a atuação: “Se o ritmo não foi alterado, se a harmonia não foi alterada e se harmonia encaixa, não posso dizer que houve desafinação. Isto [falando do vídeo publicado pela humorista] não são os Anjos que eu conheço”. Acrescentou ainda que compreende "a reação que as pessoas estão a ter", mas que sabe que o vídeo "não corresponde à verdade".
Seguiu-se Sérgio Antunes, diretor técnico da Media Pro International, que descreveu a transmissão como um “desastre ao nível técnico”, com “erros de broadcast”, nomeadamente "delay" e "loop". Questionado sobre o vídeo de Joana Marques, foi taxativo: “Foi um vídeo claramente montado para atingir um fim". Apesar de reconhecer o trabalho da humorista, afirmou: "Não devemos difundir e apoiar humor que vai ferir pessoas numa situação mais frágil".
João Pedro Ferreira, editor de imagem, disse que os cortes no vídeo foram feitos em “sítios planeados, estratégicos para causar ainda mais impacto à situação”.
Já no final da sessão da manhã, foram ouvidos dois empresários: Pedro Miguel Ferreira Duque e Bruno Carvalho. Ambos afirmaram ter cancelado contratos e patrocínios com os Anjos após a publicação do vídeo. “Cada um de nós tem o nosso próprio negócio e o que não quer é má publicidade e polémica”, justificou Ferreira Duque.
Bruno Carvalho, que está ligado às áreas do desporto e construção, revelou que havia assinado um contrato de cerca de 75 mil euros por dois anos com a dupla musical, mas acabou por cancelar. “Fui confrontado com isso”, sublinhou, referindo-se ao vídeo, explicando que o "ruído" foi tal que se sentiu obrigado a cortar relações comerciais. "Disse 'não posso estar no meio disto'. Tomei coragem e liguei ao Nélson. Disse 'não me leves a mal, mas, com tudo isto que está a acontecer, tenho de olhar para o que pode sobrar para a minha empresa'".
Após o intervalo para almoço, retomou-se a audiência com o depoimento de Luís Ramos, sócio-gerente de uma empresa farmacêutica. Disse em tribunal que tinha assinado com os Anjos um contrato de 85 mil euros, por dois anos, que incluía um concerto privado e a exploração da imagem. Explicou que a banda foi escolhida por estar associada a “ações de solidariedade, em especial contra o cancro da mama”, mas que o vídeo de Joana Marques mudou o cenário. “Achámos internamente que não fazia sentido para a nossa empresa ficar associado a esta polémica que estava a existir", referiu.
A audiência decorre com calor intenso na sala. O caso continua com novos testemunhos e mais uma sessão agendada para 30 de junho. O tribunal terá de avaliar se o vídeo ultrapassou os limites do humor ou se se tratou de uma sátira legítima dentro da liberdade de expressão.