O episódio desta quinta-feira protagonizado por Manuel Pinho no Parlamento, e que conduziu à sua demissão, foi apenas mais um numa lista considerável de gafes e incidentes que criaram embaraço ao Governo de José Sócrates. Veja o vídeo.
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Quem não se recorda do episódio da farinha Maizena, que deu novo alento publicitário a esta marca de produtos alimentares? Foi a 5 de Maio deste ano. Depois de Paulo Rangel ter criticado Basílio Horta, presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo (AICEP), por este ter recusado uma proposta do PSD que permitia aos jovens à procura do primeiro emprego candidatarem-se em qualquer país da Europa, Manuel Pinho respondia desta forma: “Eu creio é que o Paulo Rangel tem de comer muita papa Maizena para chegar aos calcanhares do Dr. Basílio Horta”.
Praticamente, desde o início da legislatura que o nome do agora ex-ministro da Economia estava associado a momentos menos felizes, sempre aproveitados pelos partidos da oposição como arma política de arremesso. O episódio que primeiro marcou de forma negativa a sua actuação aconteceu fora de portas, mais precisamente na China, no início de Fevereiro de 2007, onde Manuel Pinho se encontrava em visita oficial. Discursando em Pequim perante uma plateia de 300 empresários chineses, Pinho incentivou-os a investir em Portugal argumentando que a mão-de-obra portuguesa é barata. “Somos um país competitivo em termos de custos, nomeadamente, os custos salariais são mais baixos do que a média da União Europeia”, propagandeava o ministro. Oposição e sindicatos não gostaram da imagem que estava a ser dada de Portugal além-fronteiras e pediram responsabilidades ao primeiro-ministro.
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Ainda esta fogueira não estava devidamente apagada e já Manuel Pinho incendiava novamente os ânimos dos trabalhadores e dos partidos da Oposição. Três meses depois, face ao inevitável despedimento de 500 trabalhadores da fábrica da Delphi, na Guarda, o ministro garantia em Bruxelas que a multinacional tinha criado 250 postos de trabalho em Castelo Branco. Esqueceu-se foi de dizer que esses lugares encontravam-se preenchidos desde 2006.
E porque o que é nacional é que é bom, Manuel Pinho aceitou o convite de 80 empresários portugueses da indústria do calçado a visitar os seus expositores na feira internacional do sector em Milão, Itália. Estávamos em Maio de 2008 e perante tantos elogios do ministro, os jornalistas não hesitaram em perguntar-lhe que sapatos usava. Com a sua já habitual bonomia, Pinho respondia: “Venho a Itália para comprar sapatos italianos, mas como fiquei tão surpreendido pela qualidade dos sapatos portugueses, vou mesmo levar uns sapatos portugueses!”.
Ainda no ano passado, dois outros episódios colocaram Manuel Pinho no centro da polémica. O homem que tutelava a ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica), que tantas dores de cabeça deu aos fumadores após a aprovação da Lei do Tabaco, no início de 2008, foi apanhado a furmar em locais proibidos. Primeiro, juntamente com o primeiro-ministro, num voo fretado da TAP entre Portugal e Caracas (Venezuela). Mais tarde, no Convento do Beato, em Lisboa, durante a entrega dos prémios da revista Exame. Mais uma vez, Manuel Pinho continuou seguro no Governo. Até esta quinta-feira.