O Presidente da República defendeu, segunda-feira, que a palavra tem de ser devolvida ao povo quando a democracia está numa "encruzilhada" e apelou à responsabilidade dos partidos para actuarem com "verdade" neste "tempo de sacrifícios" e "interrogações".
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Numa intervenção na cerimónia na sessão comemorativa do 25 de Abril que decorreu no Palácio de Belém, o Presidente da República centrou o essencial do seu discurso nas próximas eleições legislativas, "no caminho que os portugueses serão de novo chamados a escolher os caminhos que querem trilhar".
"Nos momentos decisivos, é a voz do povo que deve fazer-se ouvir. Em democracia, há que respeitar a soberana decisão dos cidadãos. Homenagear o 25 de Abril e aqueles que o fizeram é, acima de tudo, ter confiança na maturidade cívica dos Portugueses e respeitar os princípios da democracia e as opções esclarecidas feitas em liberdade", sublinhou, numa ideia que, já no final da intervenção voltou a repetir.
"Este é um tempo de sacrifícios, sem dúvida, mas também um tempo de grandes escolhas. Quando uma democracia se encontra numa encruzilhada, tem de se devolver a palavra ao povo e, depois, respeitar as opções que o povo decidir tomar", insistiu.
Num claro apelo aos partidos políticos, Cavaco Silva centrou-se na próxima campanha eleitoral, alertando para a necessidade dos programas de cada força partidária serem apresentados com "serenidade", sem "promessas que não poderão ser cumpridas", porque "vender ilusões ou esconder o inadiável é travar a resolução dos problemas que nos afligem."
"Dos agentes políticos exige-se que actuem com transparência e com verdade, que esclareçam devidamente os Portugueses, sem subterfúgios. A liberdade e a democracia que conquistámos exigem de todos sentido de responsabilidade e uma consciência clara da situação em que nos encontramos", frisou, lembrando que as eleições irão ter lugar num "tempo de sacrifícios e de grandes interrogações quanto ao nosso futuro".
Por isso mesmo, notou, é absolutamente fundamental, que na campanha eleitoral os partidos políticos adoptem uma conduta responsável e saibam estar à altura deste desafio, actuem "com transparência e com verdade" e esclareçam os portugueses "sem subterfúgios e crispações artificiais, sem querelas inúteis".
"Os Portugueses não se revêem num estilo agressivo de actuação política, feito de trocas constantes de acusações e de tensões permanentes", referiu, preconizando que os eleitores querem escolher "propostas e soluções concretas para os seus problemas", numas eleições que "serão um teste decisivo para o regime nascido dos anseios de Abril de 1974".
"Por isso, a próxima campanha eleitoral deve decorrer de uma forma que não inviabilize o diálogo e os compromissos de governabilidade de que Portugal tanto necessita", alertou, insistindo que "é imperioso criar espaços de entendimento que assegurem soluções estáveis e credíveis de governo".
Cavaco Silva deixou ainda uma nota sobre o papel da comunicação social, apelando a uma actuação "com isenção e com independência", sem iludir os portugueses com "o acessório em detrimento do essencial".
Num claro apelo contra a abstenção, o Presidente da República pediu uma participação activa dos eleitores, considerando que seria incompreensível que neste "momento crucial", os "cidadãos se abstivessem de votar e de decidir o seu destino e se alheassem da campanha que em breve se irá iniciar".