<p>Culpado ou sacrificado? Ainda não se sabe. O único dado certo é que Fernando Lima, o homem sombra de Cavaco Silva há mais de vinte anos, foi "apagado" da assessoria para a Imprensa, na sequência do "caso escutas".</p>
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"Por decisão do presidente da República". A frase é oficial e foi a única divulgada ontem pelo Palácio de Belém para anunciar a demissão. Ao mesmo tempo, na página da Presidência na Internet, deixava de existir o nome de Fernando Lima, na assessoria para a Comunicação Social, onde passou a constar apenas o nome de José Carlos Vieira, o adjunto.
O nome do homem que nos últimos 14 "viveu" para Cavaco foi apagado da Casa Civil do presidente. Sem explicação pública e quando ninguém esperava uma posição do presidente antes das eleições do próximo domingo.
A notícia, que chegou, a meio da tarde, às redacções através da agência Lusa, surgiu três dias depois de Aníbal Cavaco Silva ter dado a palavra de presidente da República, que "principalmente em tempo eleitoral, deve deixar todo o espaço, completamente todo o espaço aos partidos e não dizer uma palavra, nem um gesto, que possa ser aproveitado por este ou por aquele".
"E, por isso, ficarei totalmente em silêncio", garantiu aos jornalistas.
Cavaco não disse uma palavra mas fez um gesto que causou um enorme ruído ao demitir o seu mais próximo e antigo conselheiro, cujo nome foi indicado como sendo a fonte que levou o jornal "Público" a escrever que a Presidência suspeitava que estava sob escuta por ordem do Governo de Sócrates.
A divulgação do nome de Fernando Lima foi capa da edição de sexta-feira, do "Diário de Notícias", que publicou uma alegada mensagem de correio electrónico entre o editor de política do "Público", Luciano Alvarez, e o correspondente na Madeira, Tolentino de Nóbrega. Nessa mensagem, datada de Abril de 2008, havia instruções para seguir pistas fornecidas por Fernando Lima quanto a essa suspeita de escutas, supostamente por ordem directa de Cavaco.
De sexta-feira até ontem, não houve outros desenvolvimentos factuais, mas o assunto entranhou-se na campanha eleitoral, com Manuela Ferreira Leite e a sua equipa a usarem o caso para acusarem os socialistas de estarem por detrás da divulgação da noticia do DN.
Um outro dado surgiu no domingo à noite, na RTP, quando Marcelo Rebelo de Sousa considerou o caso das escutas "ridículo" e aconselhou (ou previu) um "puxão de orelhas" a alguém.
A atitude de Cavaco Silva de nunca se ter pronunciado sobre o caso das alegadas escutas e, agora, depois de ter prometido silêncio durante a campanha eleitoral, ter demitido o assessor sem explicações, vem causar instabilidade na vida política. No âmbito da campanha eleitoral, ouviram-se vozes a porem em causa a estatura ética do antigo líder do PSD para ocupar o cargo de mais alto magistrado da nação.
Todo este burburinho, alimentado pela ausência de explicações do Palácio de Belém, pode fragilizar a Presidência, a menos de uma semana de eleições legislativas, quando se prevê que, depois de dia 27, o chefe de Estado seja chamado a ter um papel mais interventivo no sentido de garantir a governabilidade, no quadro de uma previsível ausência de maioria absoluta de um só partido.