O desenvolvimento do Sistema de Defesa Antimíssil (SDA), o grande projecto da NATO para a próxima década, não vai implicar a retirada das armas nucleares da Europa, conforme queriam alguns dos aliados. Mas pode vir a ser o marco do relançamento das relações com Moscovo. Em Lisboa e a bem do Afeganistão.
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A Cimeira da NATO que está a decorrer no Parque das Nações, em Lisboa, e que deverá terminar amanhã, sábado, não vai satisfazer as pretensões de cinco aliados europeus - Alemanha, Bélgica, Luxemburgo, Noruega e Holanda. Aqueles queriam que a instalação do SDA fosse concomitante à retirada das cerca de 240 bombas atómicas norte-americanas instaladas, desde a Guerra Fria, em teritório europeu (Alemanha, Bélgica, Itália e Turquia).
Interrogado acerca dessa possibilidade - que não agrada nem a Washington, mas tampouco a Paris e Londres, ciosas dos arsenais domésticos que as inscrevem no restrito clube das potências nucleares -, o porta-voz da Aliança Atlântica, James Appathurai, foi taxativo: "Enquanto houver armas nucleares no Mundo, a NATO precisa delas", disse.
Vão manter-se, portanto, embora já não apontadas à Rússia. Pelo contrário, o inimigo de outrora - e que está na génese da Aliança - foi até convidado a cooperar no desenvolvimento do SDA, em condições a debater no âmbito do Conselho NATO-Rússia (órgão consultivo criado em 2002) entre o presidente dos EUA, Barack Obama, e o homólogo russo, Dmitri Medvedev. Dois anos após o seu antecessor, Vladimir Putin, ter ameaçado retaliar caso a Polónia ou a República Checa aceitassem sistemas similares, e no auge da tensão resultante da invasão da Geórgia.
Rússia necessária ao plano de Petraeus
Os desentimentos do passado diluem-se face às necessidades do presente, designadamente quanto ao maior teatro de operações em curso da Aliança Atlântica: o Afeganistão. O país que as tropas de combate da NATO, diz Appathurai, abandonarão em 2014, culminando o plano de transferência gradual das operações no terreno para as forças locais delineado pelo general norte-americano David Petraeus.
Tal estratégia é hoje apresentada, em Lisboa, aos chefes de Estado e de Governo dos 48 países envolvidos na Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF), que tem naquele país cerca de 130 homens, e ao próprio presidente afegão, Hamid Karzai.
No entanto, para ser exequível, a NATO precisa do contributo de Moscovo. Não em tropas de combate - seria pedir demasiado para os russos, que promoveram uma invasão desastrosa àquele país em 1981, e inaceitável para os próprios afegãos - mas em logística e pessoal de apoio.
O que já está a acontecer e deverá aumentar, segundo Appathurai: "A NATO vai pedir à Rússia um emepnho maior no Afeganistão, designadamente quanto à logística, com o fornecimento de helicópteros e outros meios de transporte; no combate à produção de ópio e ao narcotráfico, e na cedência de instrutores das forças afegãs", declarou, informando que a Rússia também começará a enviar, "já no próximo mês, pessoal clínico para o Afeganistão".
Mas a prioridade é dar instrução às forças locais para que sejam capazes de, segundo a NATO, "garantir a própria segurança e impedir que o território volte a ser um santuário para os terroristas". Face ao cepticismo de alguns, Appathuraigarantiu que "as forças de segurança afegãs, e a Polícia em particular, melhoraram substancialmente, e 85% das missões são já feitas, hoje, em colaboração com os afegãos".