O "factor simpatia" é decisivo nas eleições para o Conselho de Segurança das Nações Unidas, porque o voto é secreto e os delegados muitas vezes votam nos embaixadores de que são amigos pessoais, segundo analistas ouvidos pela Lusa.
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"Uma das regras da eleição é que um embaixador muito apreciado atrai mais votos. O factor pessoal é muito importante porque muitos delegados não votam segundo instruções, mas pela sua simpatia pessoal em relação a um embaixador", afirma o ex-diplomata italiano Francesco Paolo Fulci, que fez campanha por Portugal na eleição de membros não-permanentes do CS em 1997, na qual afirma que este factor foi decisivo.
O embaixador português junto das Nações Unidas da altura, Pedro Catarino, "era muito simpático, muito apreciado por todos, e isso fazia uma diferença muito grande", enquanto o embaixador australiano "era um homem muito presumido", recorda o ex-representante junto das Nações Unidas (1993-2000), hoje vice-presidente do grupo Ferrero.
Dez anos depois de ter trocado a diplomacia pelo mundo empresarial, Fulci ainda é reconhecido junto dos observadores das Nações Unidas por ter ganho todas as eleições para o Conselho de Segurança em que se envolveu.
Recorda-se em particular a "regra Fulci": o número de votos final equivale ao número de compromissos escritos deduzido de 10% (se houver 100 promessas, devem contar-se com 90 votos) e de compromissos verbais deduzido de 20% (80 votos em 100).
"Nunca perdemos uma eleição, aplicando esta regra simples", disse Paolo Fulci, condecorado pelo Estado português, por proposta de Pedro Catarino, pelo seu papel na vitória contra a Austrália em 1997.
Para assegurar a eleição, cada país tem de ter mais de dois terços da votação na Assembleia Geral.
Portugal disputa no dia 12 de Outubro, com o Canadá e a Alemanha, dois lugares de membro não-permanente do CS no grupo regional Europa Ocidental e Outros para o biénio 2011-12.
Por isso, afirma o analista Jeff Laurenti, director de programas de política externa da Century Foundation, é tão importante direccionar os esforços de captação de votos para ministérios dos Negócios Estrangeiros como para representações junto das Nações Unidas, que "podem dar o voto a um amigo sem que ninguém alguma vez descubra".
"Acho que há um maior sentimento de autonomia nos países pequenos em desenvolvimento do que nos desenvolvidos. Os países mais pequenos muitas vezes nem têm indicações claras dos seus ministérios", afirmou Jeff Laurenti.
"O ministro dos Negócios Estrangeiros na capital, que deu o seu compromisso ao seu homólogo de outro país, não pode ter a certeza que esse é o nome que o embaixador em Nova Iorque, em privado, vai escrever no pedaço de papel e colocar na urna. É aqui que o representante permanente em Nova Iorque pode jogar o seu próprio jogo, e a personalidade conta nestas eleições, ao ponto de os representantes sentirem-se livres de fazer as suas próprias escolhas", afirmou.