O secretário-geral do PCP acusou, este domingo, o Presidente da República de se limitar "a passar conselhos e atestados", esquecendo as suas responsabilidades pela situação do país.
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"Ainda ontem [sábado] ouvi o Presidente da República a passar conselhos e atestados. Mas, quantos decretos não assinou para privatizações, para a liquidação do aparelho produtivo. Há que assumir as responsabilidades. Só discurso, só garganta, não chega", afirmou o líder comunista, num almoço comemorativo do 25 de Abril em Fanhões, no concelho de Loures.
Numa intervenção com várias referências ao Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, Jerónimo de Sousa falou ainda de outro "conselho avisado" que o chefe de Estado deixou no sábado, no seu discurso na sessão solene comemorativa do 25 de Abril, na Assembleia da República, quando apelou aos partidos para fazerem uma contenção de custos nas campanhas eleitorais.
"Estamos de acordo", disse o secretário-geral do PCP, garantindo que "os milhares e milhares de candidatos da CDU não gastarão o que gastou o candidato Cavaco Silva", nas últimas eleições presidenciais.
Quanto ao apelo também deixado no sábado por Cavaco Silva contra a abstenção nas eleições que irão decorrer este ano – europeias, legislativas e autárquicas –, Jerónimo de Sousa corroborou este outro "conselho avisado" do chefe de Estado, mas recordou a sua posição quando o PCP pediu um referendo sobre o Tratado de Lisboa.
"O que é que o PS, o PSD, o Presidente da República disseram? Que os portugueses estavam impedidos de se pronunciar", lembrou.
O Governo foi outro dos alvos dos ataques de Jerónimo de Sousa, que acusou o executivo de maioria socialista de utilizar "todos os artifícios" para remeter para a crise internacional a responsabilidade da actual situação do país.
"Querem-nos convencer que tudo é resultado da crise, nada tem a ver com a sua política", afirmou.
Contudo, acrescentou Jerónimo de Sousa, a crise internacional não explica "a dimensão da crise, nem as dificuldades que o país atravessa".
A este propósito, o secretário-geral comunista recordou algumas das políticas do Governo que agravaram a situação do país, como o novo código do trabalho ou os cortes no subsídio de desemprego.
"A coberto da grave crise, os governantes tudo têm feito para escamotear as suas responsabilidades", insistiu, mostrando-se pessimista quanto ao futuro.
"Portugal vai continuar a patinar em recessão por tempo ainda não determinado", declarou, acusando aqueles que "governaram contra Abril" por terem levado Portugal à actual situação, onde as desigualdades sociais são cada vez maiores e as famílias cada vez estão mais endividadas.
"O Governo não está a fazer nem o necessário, nem o possível, nem o justo", continuou, anunciado que o PCP vai voltar a apresentar no Parlamento um diploma para "alargar de forma significativa o subsídio de desemprego".