O líder do PCP acusou hoje, sexta-feira, o primeiro-ministro de se colocar na posição de "ou eu, ou o dilúvio" e desvalorizou uma eventual queda do Governo, sublinhando que o povo "encontrará sempre uma alternativa, desde que exista democracia".
Corpo do artigo
Na primeira das dezanove questões colocadas pela oposição ao Governo no debate da moção de censura apresentada pelos comunistas, José Sócrates e Jerónimo de Sousa envolveram-se numa acesa troca de acusações, com o chefe do executivo a defender que o PCP "instrumentalizou" a Assembleia da República para a manifestação da CGTP no dia 29 de Maio e o líder comunista a usar "pela primeira vez em trinta anos" a figura da defesa da honra da bancada.
"Falou de irresponsabilidade, afirmou e reafirmou o papão do Governo poder cair hoje nesta Assembleia da República, pode-se questionar, e isso com certeza ficará para outro debate, se o povo português perderia grande coisa com essa demissão", começou por afirmar o secretário-geral do PCP.
Insistindo que esta foi uma moção de censura "política", Jerónimo de Sousa acusou Sócrates de "desonrar" compromissos eleitorais "no plano dos direitos sociais, dos salários, do investimento público, do desenvolvimento económico, do combate ao desemprego".
O líder do PCP referiu que com as medidas de austeridade, "quem paga a grossa fatia de 75 por cento são os trabalhadores e as suas famílias e 25 por cento o grande capital".
"Diga lá quem tem as contas certas? Não venha com essa mistificação de que isto vai ser distribuído por todos", disse.
Jerónimo acusou ainda o executivo de "chantagem para que o povo não resista, não lute e não proteste, não mostre a sua indignação" e deixou um aviso: "Senhor primeiro-ministro, é novo e talvez não saiba, mesmo quando a luta era proibida e reprimida, os trabalhadores nunca baixaram os braços, quanto mais agora, que vivemos em regime democrático".
Na resposta, Sócrates acusou o PCP de "brincar com coisas sérias" e lembrou que "uma moção de censura é mais que censurar as políticas do Governo, destina-se a fazer cair o governo".
"Será que algum português concordará com a ideia de que a melhor forma de responder aos seus problemas é uma crise política?", interrogou.
Sócrates ironizou, dizendo "compreender bem" esta iniciativa parlamentar.
"Ela estava tão visível nas suas palavras e no seu discurso, afinal de contas esta iniciativa do PCP aqui no Parlamento é uma iniciativa que se destina a fazer uma recordatória daquilo que é uma convocatória para uma manifestação daqui a umas semanas", disse.
Para o primeiro-ministro, o PCP quer provocar "instabilidade política permanente" e "apenas dedicar-se ao exercício de atirar abaixo o Governo, como se isso fosse resposta para algum problema".
"O meu compromisso é defender os interesses do país, esse é o meu ponto de vista e por isso não deixarei de o fazer em qualquer circunstância", advertiu.
Pedindo a defesa da honra da bancada, Jerónimo de Sousa foi contestado pelos deputados da bancada do PS e afirmou: "Mau sinal desta bancada, sempre que há estes sinais de desespero aproxima-se sempre o fim de alguma coisa".
"Em relação à questão de atirar o Governo abaixo, insisto, não se coloque na ideia de que 'ou eu, ou o dilúvio', não coloque isso assim. Nunca esqueça que o poder reside sempre no povo e que se este Governo for embora, o povo encontrará sempre uma alternativa desde que exista democracia", reiterou.
No final, Sócrates assinalou que o país disputou eleições "há seis meses atrás" e classificou a moção de censura do PCP "tacticismo levado ao extremo".
Voltando a referir-se à manifestação da CGTP, o chefe do Governo considerou existir uma "instrumentalização" do Parlamento, "com o objectivo de recordar e de apelar à mobilização e fazer, já agora, a recordatória da manifestação e também com o objectivo de trazer atrás o BE".