O secretário geral do PCP considera que PS e PSD "parecem querer" uma crise política, afirmando que os dois partidos não estão preocupados com a substância do próximo Orçamento do Estado, interessando-lhes apenas o seu interesse partidário.
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O líder comunista, Jerónimo de Sousa, falava na abertura das jornadas parlamentares do PCP, em Santarém.
"Não há certeza se o Orçamento é ou não viabilizado. Em última análise quem decidirá não são os executantes mas os mandantes. Já pouco lhes importa a substância do Orçamento. Interessa é se há ou não há Orçamento, mesmo que o país ande para trás, mesmo que o povo fique pior", sustentou Jerónimo de Sousa.
A discussão do próximo Orçamento tem suscitado "sistemáticos jogos de palavras e ataques recíprocos entre PS e PSD", que "falam em nome do interesse nacional", mas, para Jerónimo de Sousa, "ambos parecem sobretudo preocupados com o seu próprio interesse partidário".
"Falam da crise política como um problema, mas ambos parecem querê-la. Armam e desarmam a sua iminência em função da última sondagem que lhes garanta ou nega a possibilidade de manter o seu poder", destacou Jerónimo de Sousa.
No entanto, sublinhou, os dois partidos estão "a tentar iludir o que toda a gente vê: que estão de acordo com o fundamental das políticas seguidas e que são a essência da política de direita".
"Nas suas negociações ninguém lhes ouve uma palavra sobre o corte dos salários, do subsídio de desemprego, do abono de família ou o aumento do IVA", referiu.
Sobre o Orçamento do Estado para o próximo ano, o PCP rejeita que seja "o repositório das políticas e das medidas que o Governo acaba de anunciar com o Programa de Estabilidade e Crescimento [PEC] III, reforçando a dose dos sacrifícios para o povo e de renúncia a uma política de desenvolvimento económico, com o congelamento e o corte do investimento público e a drástica redução do consumo interno".
Para o PCP, o país precisa de "outra política e de uma política de rigor, que dê segurança ao povo e não para 'acalmar os mercados'", até porque, salientou o líder comunista, "não é com tais medidas de sufoco para os trabalhadores e para o povo que os especuladores deixarão de especular com a dívida" nacional.
"Os mercados, isto é, os bancos deixarão de especular se o poder político deixar de se submeter ao poder económico aqui na Europa", disse Jerónimo de Sousa.
Durante os dois dias de reunião, os deputados comunistas vão preparar propostas alternativas para o OE, defendendo "maior justiça fiscal", exigindo "um sério contributo do grande capital, banca, grandes fortunas, nomeadamente com a taxação das transacções em bolsas e das transferências financeiras para os paraísos fiscais".
O PCP vai ainda exigir a anulação das medidas de austeridade previstas no PEC de penalização dos salários da administração pública e das "medidas antissociais, nomeadamente os arbitrários critérios de acesso a prestações" sociais, reclamando também mais apoio aos sectores produtivos.