Marques Mendes diz que banqueiros são dos principais responsáveis pela situação do país
Marques Mendes afirmou, esta noite, em Coimbra, que os banqueiros são dos principais responsáveis pela atual situação de Portugal e que a sua função é gerir bem os seus bancos e não o país.
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"Há muita gente que é responsável" pela situação a que chegou Portugal e "os banqueiros estão na primeira linha desta responsabilidade", sustentou o ex-líder do PSD e atual conselheiro de Estado, que falava, na noite de sexta-feira, em Coimbra, numa conferência sobre o futuro de Portugal e da Europa.
"Eu não estou a querer mudar de banqueiros, porque isso é uma coisa difícil de fazer", mas "quero que a situação mude", salientou Marques Mendes defendendo que "cada um tem a sua função" e que "a função do banqueiro é gerir bem o seu banco, não é gerir bem o país, porque ele não está mandatado para isso".
Quanto aos políticos, "já agora, devem dar-se ao respeito, porque a legitimidade do voto não deve ser nunca, nunca, condicionada pela legitimidade dos poderes de facto", advertiu o antigo ministro.
"Os banqueiros têm um estatuto de impunidade que é uma coisa extraordinária", sustentou Marques Mendes, considerando que "a generalidade dos políticos", em Portugal, têm medo de falar aos fortes -- é sempre mais fácil falar aos fracos".
Mas como o antigo líder dos sociais-democratas defende "exatamente o oposto", entende que "estas coisas devem ser ditas, para ver se as mentalidades mudam um bocadinho" e se desenvolve "uma cultura que não seja de impunidade", sublinhou.
Portugal tem de deixar de ter uma economia "centrada no mercado interno" e tem de a "voltar para o exterior", mas, advertiu Marques Mendes, esta orientação tem de fazer parte do "discurso político, porque o exemplo deve vir de cima, mas convém que [daí] venha um bom exemplo", pois, "ao nível da banca, o contributo que ela deu foi péssimo, foi negativo".
"A generalidade dos nossos banqueiros" contribuiu para que Portugal "tivesse demorado tanto tempo" a "acordar" e a "chegar ao caminho" da exportação e da internacionalização da sua economia.
Aos banqueiros que "estão aí na praça já só falta, mais dia, menos dia, começarem a dar uns palpites" e a fazerem -- "como adoram muito fazer -- colagens ao poder".
Só se "culpam os políticos" pela situação do país, mas "os banqueiros estimularam tudo e mais alguma coisa", afirmou Marques Mendes, responsabilizando também os empresários e os gestores.
"Não são só os trabalhadores que precisam de ações de formação", advertiu, embora existam "empresas e empresários" com "muito mérito, nestes tempos difíceis", salientou.
A conferência desta noite integra-se num ciclo de quatro debates sobre a situação económica e social do país e da Europa, organizado pelo economista Miguel Fonseca e Clube MBA da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.