Do gabinete de Alberto Martins saiu fumo branco para a eleição do novo provedor de Justiça. Pouco passava das 11,30 horas de ontem, quando os líderes parlamentares do PS e do PSD anunciaram um candidato comum.
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Alberto Martins e Paulo Rangel sempre deram a entender aos jornalistas que não era culpa deles o prolongamento, por mais de um ano, do impasse sobre a escolha do novo provedor de Justiça. O problema vinha da cima. Ou seja, tudo se tinha complicado a partir do momento em que o assuntos passou a ser tratado ao mais alto nível pelas direcções de ambos os partidos. José Sócrates e Manuela Ferreira Leite não cederam um milímetro nas negociações e os deputados ficaram com o ónus de não conseguirem desbloquear uma solução.
Perante as pressões cada vez mais insistentes do presidente da República, surgidas na sequência da demissão de Nascimento Rodrigues, o processo regressou efectivamente ao Parlamento. A seguir, na edição de quinta-feira, da revista Visão, Jorge Miranda retirou-se da corrida. A partir daí ficou aberta a porta aberta para os líderes parlamentares dos dois maiores partidos mostrarem ser possível um entendimento em torno de uma candidatura, susceptível de ser também apoiada pelos outras bancadas.
Assim, ontem, a poucas horas de terminar o prazo para a apresentação das candidaturas, Alberto Martins e Paulo Rangel apresentaram, lado a lado, um candidato comum, Alfredo José de Sousa, "um magistrado cuja isenção, prestígio, sentido de serviço à República e ao interesse público são conhecidos".
O candidato será ouvido na próxima semana na comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e sujeito a votação a 10 de Julho, o último dia de sessão plenária da actual legislatura.
Parco em comentários, Jorge Miranda, cuja candidatura não obteve a necessária maioria de dois terços dos votos para ser eleito, apenas disse ao JN que Alfredo José de Sousa "é uma pessoa à altura do cargo". "Foi uma boa escolha". E mais não disse o constitucionalista, que na entrevista à Visão criticara o comportamento dos parlamentares do PSD.
A ideia de que Alfredo José de Sousa é uma boa escolha generalizou-se no Parlamento. Sem objecções, nem à Esquerda nem à Direita.
Apesar de reservar uma posição formal para a próxima semana, o líder da bancada comunista, Bernardino Soares, sublinhou o "prestígio" do candidato. Só lamentou "que tenha demorado tanto" e disse esperar que PS e PSD "tenham aprendido a lição".
O mesmo tom foi usado por Luís Fazenda, do BE, para quem "convém tirar algumas conclusões deste processo prolongado e doloroso". Quanto ao nome de Alfredo José de Sousa, o Bloco vê-o "com simpatia e respeito".
Do lado do CDS-PP, Mota Soares garantiu que "não há objecções" mas fez questão de lembrar que "não foi dignificante o processo de substituição de Nascimento Rodrigues".
"Tudo parece estar bem quando acaba bem", diz o povo. Jaime Gama, o presidente da Assembleia da República, subscreve a ideia mas deixa o reparo: "Teria gostado que esta resolução tivesse sido tomada há bastante mais tempo."