O secretário-geral do PCP acusou, esta sexta-feira, o primeiro-ministro de estar a construir uma "antecâmara" para a dispensa de trabalhadores em geral, mas Passos Coelho assegurou que "requalificação não é despedimento", durante o debate quinzenal no parlamento.
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"Lá se foram os sinais tão proclamados permanentemente sobre as estatísticas do desemprego, as quais, desde que torturadas e retorcidas, dizem sempre aquilo que se pretende", afirmou Jerónimo de Sousa, classificando de "inquietantes as tendências" anunciadas de "despedimentos no setor financeiro, na base das Lajes, na TAP", entre outras empresas e na administração pública.
O líder do executivo da maioria PSD/CDS-PP aconselhou a oposição a olhar para a tendência da taxa de desemprego e não para os "valores discretos", embora revelando preocupação com os recentes aumentos, apesar dos "20 meses de desagravamento do desemprego" anteriores.
"O Instituto Nacional de Estatística (INE) mostrou estatísticas que desagravavam o desemprego. Não estava a sugerir que o INE distorceu os números, pois não? Agora, para os senhores deputados, já não deve estar distorcida porque aumentou", questionou Passos Coelho, criticando aquilo que considerou ser uma "mistificação", pois "requalificação não é despedimento".
Jerónimo de Sousa afirmou que as medidas anunciadas são "uma antecâmara do despedimento", adiantando que o mesmo "começa nos cortes nos salários, numa autêntica chantagem" e que "não era o INE, mas o Instituto Emprego e Formação Profissional (IEFP) que distorcia e dissimulava as estatísticas".
"É conhecido que o INE apresenta uma estatística sobre o emprego e o desemprego e o IEFP apresenta dados sobre o emprego e desemprego registados nos centros (de emprego). Reportam situações diferentes, mas têm uma tendência contraditória? Não foi assim. Os dados apresentados pelo IEFP refletiam a mesma tendência dos do INE. São os funcionários públicos que estão a fazer o registo que não lhe merecem confiança e estão lá para fazer o que o Governo manda? É isso que sugere?", indagou Passos Coelho.
O líder comunista criticou ainda a suspensão da pesca da sardinha e a situação das urgências hospitalares, mas o primeiro-ministro já só teve tempo disponível para comentar a primeira, tendo Jerónimo de Sousa afirmado que Passos Coelho, "tudo espremido, não responde a nada de concreto".
O líder do executivo explicara que "a quota de pesca foi atingida e é preciso repor 'stocks', que implicam a suspensão do período de pesca".
"Causa transtorno aos pescadores e ao mercado. É do interesse de Portugal que essa atividade possa ser desenvolvida. Se foi suspensa, deveu-se a um objetivo muito prático que foi a falta de recurso para poder ser pescado", afirmou, declarando ter a certeza de que os responsáveis governamentais tudo terão feito junto da União Europeia para defender os interesses de Portugal.