José Sócrates considerou "absolutamente indigno" o comportamento do PSD na Assembleia da República, acusando os social-democratas de derrparrem para o "totalitarismo". Em causa as escutas do processo "Face Oculta".
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"É indigno que uma líder política faça do ataque de carácter, da lama e da ofensa linha política como nunca se viu em Portugal”, disse José Sócrates, em resposta às declarações de Manuela Ferreira Leite, líder do PSD, que questionou o primeiro-ministro sobre as escutas do processo "Face Oculta".
"É indigno, vergonhoso, desprestigia as instituições em Portugal", acrescentou José Sócrates, ao comentar, também, as declarações de José Pedro Aguiar-Branco, líder parlamentar do PSD, que recordou, na AR as acusações de "espionagem política" proferidas pelo ministro Vieira da Silva, a própósito do processo "Face Oculta", nomeadamente as alegadas escutas que envolvem Sócrates.
"É um princípio, não de democracia, mas de totalitarismo", acrescentou José Sócrates, em resposta a José Pedro Aguiar-Branco. "Absolutamente indigno", reiterou.
Ferreira Leite fala em ataque à instituição justiça
Durante o debate quinzenal no Parlamento, Manuela Ferreira Leite reagiu às declarações do ministro da Economia, Vieira da Silva, e do vice-presidente do grupo parlamentar do PS, Ricardo Rodrigues, sobre as escutas de conversas do primeiro-ministro.
"Nunca vi um ataque por parte de um Governo e de um grupo parlamentar tão indigno à instituição da justiça", declarou a presidente do PSD, acrescentando: "Quando os senhores estão embaraçados não olham a meios para atingir fins, e isso é algo de muito grave em democracia".
"Ou o senhor hoje aqui diz claramente se subscreve ou não aquilo que disse o senhor ministro e o vice-presidente da sua bancada ou eu dir-lhe-ei que o senhor nem sequer tem consciência do lugar que desempenha neste país", rematou Manuela Ferreira Leite.
Na resposta, o primeiro-ministro começou por acusar a presidente do PSD de ter introduzido propositadamente o tema das escutas de conversas suas e assinalou que "as instituições judiciárias competentes consideraram essas conversas como não tendo nenhuma relevância criminal e consideraram que são nulas e foram mandadas destruir".
José Sócrates acusou depois Manuela Ferreira Leite de ter feito anteriormente uma intervenção no Parlamento "para que aquelas decisões não fossem tomadas" e de tentar que as suas conversas privadas "fossem tornadas públicas".
"O que fez com a sua actuação e a do seu partido neste domínio foi passar uma fronteira ética. Um democrata nunca exige que uma conversa privada seja divulgada como os senhores disseram. A sua actuação, senhora deputada, degrada a vida política nacional, é indigna, é infamante e não devia ter lugar nem na democracia nem num parlamento democrático", concluiu o primeiro-ministro.
Tema do debate: políticas económicas
As políticas económicas são o tema escolhido pelo Governo para o primeiro debate quinzenal da legislatura, que está a decorrer na AR. No entanto, o processo "Face Oculta" marcou o início da sessão, na primeira em que José Sócrates foi directamente questionado num debate quinzenal pela líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, depois de ambos se terem "defrontado" no Parlamento durante a discussão do programa de Governo.
O debate acontece dois dias depois de o PS ter lançado a suspeita de que a presidente do PSD conheceu antecipadamente o teor das "alegadas escutas" telefónicas envolvendo o primeiro-ministro e o ex-dirigente socialista Armando Vara, arguido no processo "Face Oculta".
A posição do PS, também sugerida pelo ministro da Economia, Vieira da Silva, foi transmitida pelo vice-presidente da bancada Ricardo Rodrigues, em sede de Comissão de Assuntos Constitucionais, mas foi veementemente rejeitada pelo PSD.
Questionada sobre esta suspeita, Manuela Ferreira Leite considerou que o problema que se põe relativamente às escutas telefónicas de conversas do primeiro-ministro é o seu desconhecimento pelos portugueses, que, defendeu, deixa José Sócrates sob suspeita.
O debate quinzenal sobre políticas económicas acontece uma semana antes da discussão da segunda proposta de alteração ao Orçamento do Estado para 2009, que ocorrerá dia 11 deste mês.
* com Lusa