O PSD acusou, esta quarta-feira, o executivo Sócrates de ter destruído "o âmago" de Portugal e colocado o país em emergência, enquanto o PS avisou que é altura de separar águas face ao "fanatismo ideológico" do atual Governo.
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Este confronto político verificou-se na abertura da reunião da Comissão Permanente da Assembleia da República e foi protagonizado pela vice-presidente da bancada do PSD Teresa Leal Coelho e pelo líder parlamentar do PS, Carlos Zorrinho.
Sem se referir às medidas de austeridade anunciadas pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, na sexta-feira, Teresa Leal Coelho disse que o objetivo prioritário da será o combate ao desemprego, que o PSD "não baixará os braços" a meio do caminho de recuperação, que o Governo tem um mandato de "transformação estrutural" e culpou a herança recebida ao fim de seis anos e meio de executivos socialistas.
Segundo Teresa Leal Coelho, os governos de José Sócrates "destruíram o âmago de Portugal" e deixaram o país perto da bancarrota.
Teresa Leal Coelho disse mesmo que, ao longo de seis anos e meio, Portugal "viveu uma perversão de democracia", com a celebração de parcerias público-privadas (PPP) "obscuras" ou com a proliferação de institutos públicos e fundações.
"Portugal é hoje um país em risco e é preciso dizer isto diariamente aos portugueses. Os responsáveis por essa situação têm rosto e são os mesmos que persistem em tentar iludir os portugueses", disse, numa intervenção que o presidente da bancada do PS classificou como "reflexo do desespero que reina" na maioria PSD/CDS.
Na sua intervenção, o líder parlamentar do PS referiu-se às medidas de austeridade anunciadas pelo Governo, dizendo que "basta" e que "é altura de separar águas".
"A razão é simples: A agenda ideológica neoliberal está-lhes no sangue, os resultados não importam. Assistimos hoje ao imolar de uma economia e de uma sociedade, ao fanatismo ideológico de quem democraticamente governa (ou desgoverna)", disse.
Carlos Zorrinho afirmou depois que só por fanatismo ideológico se explica que, um ano depois de o Governo estar em funções, se "prossiga o mais puro experimentalismo e se faça dos portugueses cobaias de políticas fora do alvo e desadequadas" - uma alusão à redução da taxa social única (TSU) para as empresas e ao aumento das contribuições para a segurança social por parte dos trabalhadores.
Só por fanatismo ideológico, prosseguiu Carlos Zorrinho, "se explica que o Governo insista que a competitividade da economia portuguesa se consegue baixando salários, descendo na cadeia de valor e enfraquecendo qualificações".
"Só assim se explica que, tendo Portugal o salário mínimo mais baixo do sul da Europa, o Governo não se coíba de pela primeira vez o fazer recuar", apontou.
Na sua intervenção, o líder da bancada do PS saudou também a decisão favorável do Tribunal Constitucional alemão ao reforço do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira, mas provocou risos na bancada do PSD quando considerou que este passo era dado na linha do PS e contra a linha do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.
"O PS propunha-o há muito e bateu-se por isso. Este reforço é bom para Portugal e para a Europa mas sempre foi contrariado pelo primeiro-ministro e pelo seu ministro das Finanças, Vítor Gaspar", sustentou o presidente do Grupo Parlamentar do PS.