Cem anos depois do início de um regime que perseguiu a Igreja, o primeiro-ministro inaugurou, ontem, terça-feira, um tempo católico, na Amadora, ao lado do cardeal patriarca de Lisboa, D. José Policarpo. José Sócrates quis mostrar que o princípio da laicidade garante "a liberdade de todos os cultos, de todas as crenças e de todas as confissões".
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A nova Igreja da Divina Misericórdia, em Alfragide, foi pequena para os fiéis locais, que encheram também uma tenda montada ao lado do templo, onde só se entrava apenas por convite. A celebração de dedicação da igreja, que começou à hora marcada, já levava mais de meia hora quando José Sócrates, esbaforido devido à maratona de eventos pelos quais se desdobrou ontem, percorreu a nave central para se sentar no lugar reservado na primeira fila, onde assistiu ao resto da longa cerimónia.
No final, o cardeal patriarca saiu pela porta da frente e o primeiro-ministro pelas traseiras, onde, aos jornalistas que o esperavam, disse que a cerimónia o deixou "com luz no coração".
Se a 5 de Outubro de 1910 começava um período de desavenças com o clero, por causa da lei da separação entre as igrejas e o Estado, em 5 de Outubro de 2010 Sócrates fez questão de assinalar "um princípio estruturante no Estado republicano: a laicidade", que "não é anti-religioso". O chefe do Governo defendeu, aliás, que "o Estado republicano trata todas as confissões com igual respeito, delicadeza e compreensão".
As comparticipações para a construção do templo também comprovam as boas relações entre Igreja e Estado. O edifício custou 1,7 milhões de euros e contou com uma comparticipação de 100 mil euros da Câmara da Amadora, que também cedeu o terreno. A Junta de Freguesia de Alfragide ofereceu o altar.