O antigo presidente da República Mário Soares considerou esta sexta-feira a situação da União Europeia "completamente confusa", considerando que "os países estão a ser governados pelos mercados", os quais já estão a substituir líderes eleitos por tecnocratas.
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Mário Soares falava em Lisboa, numa conferência sobre a Europa promovida pela Câmara de Comércio Luso-Belga-Luxemburguesa, onde disse que, "como democrata e político", está "obviamente muito preocupado" com o momento que atravessa a União Europeia.
O antigo chefe de Estado reiterou que considera o projecto europeu "o mais extraordinário" que o Homem já pôs em marcha com vista à promoção da paz, da democracia, da liberdade e do bem-estar dos povos, mas alertou para o risco de desvirtuamento do processo de integração nos últimos anos, considerando que são os mercados que estão a governar os países europeus.
Soares apontou o caso da Grécia e da Itália, em que governos "legitimamente eleitos" foram "deitados abaixo" e substituídos por "tecnocratas sem eleições", o que o levou a dizer: "Não sei se isto é melhor para a democracia".
O antigo presidente voltou a defender uma mudança de paradigma na Europa, para um aprofundamento da integração, defendendo um novo papel para as instituições europeias e, em especial, para o Banco Central Europeu que deveria, no seu entender, emitir moeda.
"Não vejo como é que mudando dois ou três artigos de um tratado se resolve o problema", acrescentou, para defender a necessidade de uma "ruptura maior".
Europa persiste numa "gestão de remendos"
Também o antigo líder do PSD Marcelo Rebelo de Sousa, outro dos participantes na conferência, defendeu "mais Europa" e um "Banco Central Europeu que seja um verdadeiro banco central" como solução para a crise actual, condenando por completo a ideia de dividir a Zona Euro, que nunca evitaria o perigo de contágio da crise da dívida a outros países aparentemente mais protegidos.
Rebelo de Sousa considerou que enquanto a Europa persistir numa "gestão de remendos", numa "gestão para a eleição em 2012 e em 2013", não sairá desta crise.
"A Europa chega sempre tarde e quando chega é sempre curto", ilustrou, acrescentando que as decisões que saem dos conselhos e das cimeiras europeias, além de demoradas, andam sempre "a reboque dos acontecimentos".
Porém, Rebelo de Sousa, diz-se "optimista" em relação ao futuro, até porque considera que a Europa já viveu crises piores e já teve líderes piores também.
"A Europa só superou grandes crises quando teve projecto e liderança", afirmou, acrescentando que é preciso ter também "fé" no projecto: "Esse é o problema. Todos os líderes falam da Europa, mas não têm fé na Europa", afirmou.
Rebelo de Sousa lamentou ainda que no passado os líderes europeus tenham optado por "uma Europa confidencial", não conseguindo chegar aos cidadãos.