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Já afirmou que se deve deixar a Justiça funcionar, no "caso Freeport", para que seja rapidamente esclarecido. Acredita que houve mesmo pressões sobre os investigadores?
A decisão de realização de um inquérito demonstra isso mesmo. Afinal, parece que existiram pressões. É agora importante esclarecer por quem e porquê. São um elemento de perturbação num processo muito sensível, em que a investigação deve prosseguir com a rapidez necessária e possível. E com os meios necessários à investigação.
Esta matéria não é já de enorme relevância política, para o primeiro-ministro e para o país?
Corre o risco de ser.
Acha que pode fazer real mossa no primeiro-ministro?
Se a investigação e a decisão dos tribunais for com os parâmetros que referi - se não existir qualquer situação de envolvimento do cidadão José Sócrates, actual primeiro-ministro - ele só tem a beneficiar com isso.
Por isso mesmo, não acha que José Sócrates já devia ter vindo a público pôr-se à disposição da Justiça?
Deveria haver uma grande disponibilidade para toda e qualquer informação. Não basta a vitimização atingir este ou aquele órgão de Comunicação Social, este ou aquele partido…
Fala das "campanhas negras"…
O senhor primeiro-ministro tem vindo a falar, mas a sua disponibilidade deve ser total, tendo em conta o que afirma e o nível em que as coisas estão.
Como avalia a intervenção do procurador-geral da República neste processo?
O procurador-geral da República fez um esforço recente a propósito da questão das ditas pressões. Acho que pode ter alguma razão em relação à escassez de meios, de condições para o aprofundamento e desenvolvimento da investigação, mas será precipitado, neste processo tão sensível, fazer já acusações. Ainda não temos uma definição de responsabilidades. Também não queremos julgar antecipadamente a Procuradoria-Geral da República.
Tendo em conta casos como o "Freeport", o "Portucale", a "operação Furacão", o "Casa Pia", as longas demoras em quase todos eles, como avalia, numa palavra, o estado da Justiça em Portugal?
A Justiça continua a ter uma opção de classe. A capacidade económica do cidadão determina o desfecho dos processos.
Quer dizer que há uma Justiça para os pobres e outra para os ricos?
Nalgumas situações, sim.