<p>José Sócrates bipolarizou a campanha com Manuela Ferreira Leite e separou as águas nas diferenças de comportamento social e de valores éticos. Colou a líder do PSD a uma visão "retrógada" e "ultrapassada"</p>
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Se a pergunta da Judite de Sousa pedia uma resposta sobre a personalidade conservadora de Manuela Ferreira Leite, o líder socialista alinhou no desafio e marcou as diferenças com a adversária nos comportamentos e nos valores. "Tem uma atitude conservadora e de resistência contra as leis progressistas".
Na entrevista de ontem à noite à RTP, José Sócrates citou a "visão ultrapassada" da líder do PSD por considerar que "o casamento tem apenas como objectivo a procriação". Ou seja: "É uma perspectiva retrógrada e o nosso país é mais moderno do que isso". Para que não restem dúvidas: "É uma escolha entre pessoas. Só haverá um primeiro-ministro e a escolha é entre entre mim e ela".
Acrescentou a "posição crispada" manifestada nas alterações do Governo à Lei do Divórcio. Uma divergência onde Manuela Ferreira Leite acompanhou as reservas de Cavaco Silva. Neste caso, Sócrates tentou "picar o balão" e reafirmou que "a cooperação institucional continua absolutamente impecável e sem falhas".
Assumiu as divergências com o presidente da República em algumas matérias pontuais e adicionou um recado para o Palácio de Belém: "O Presidente da República não permitirá que ninguém use a sua figura institucional em seu favor. Cada um deve pedalar a sua bicicleta".
Sócrates jogou tudo na bipolarização com Ferreira Leite. Estabelecidas as diferenças geracionais, avançou para as contradições entre o estilo e o conteúdo.
Começou por lamentar que o PSD reduza a sua mensagem à palavra "verdade", explicando que se trata de uma forma de "denegrir os adversários, atacar o seu carácter e desqualificá-los". Uma atitude de "superioridade moral" que "outros partidos seguiram e acabaram mal". Referia-se ao defunto PRD de Ramalho Eanes.
Continuou com os exemplos. Citou a candidatura de João Jardim a deputado como "a mais falsa das candidaturas" (não assumirá o mandato) e classificou a exclusão de Passos Coelho como castigo "por delito de opinião". No mesmo tom, disse que "os que andam sempre com a verdade na boca são os primeiros a escorregar na esquina" e acrescentou a esquecida gaffe de Ferreira Leite sobre a necessidade de suspender a democracia para fazer reformas.
Sócrates teve tempo para deixar mais duas mensagens. Primeiro: reconheceu os erros cometidos no relacionamento com os professores. "Farei o meu melhor para corrigir o sentimento de contestação que existe entre os professores" e prometeu "restaurar relação delicada e atenta a todos os seus problemas". Segundo: avançou com as duas prioridades de um eventual segundo mandato, isto é, o Inov Social disponibilizará mil estágios para licenciados; e a criação de uma conta poupança de 200 euros para as crianças usarem aos 18 anos.
O ajuste de contas com Ferreira Leite será em directo e está marcado para a próxima semana.