Entrevista a José Manuel Anes, Vice-Presidente do Observatório da Segurança e criminalidade
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Como analisa o que se está a passar no Bairro da Bela Vista?
É um problema preocupante, uma bomba social ao retardador, que exige o envolvimento de todos nós, enquanto comunidade, para o resolver.
É estranho tudo ter começado com a morte de um jovem do bairro?
A morte do rapaz envolvido numa actividade criminosa é um pretexto. Há o aproveitamento imediato dessa morte feita por grupos criminosos. A verdadeira causa do que está a acontecer é o drama da exclusão social.
Como deve então o problema ser combatido?
Primeiro, ter uma atitude policial imediata com o objectivo de isolar o grupo radical autor dos confrontos. Segundo: não deixar que haja aproveitamento político do caso por grupos radicais extremistas - como aconteceu recentemente nos bairros de França e na Grécia. Terceiro: além da força policial ("hard power") deve estar em curso um sistema de informações ("soft power") para se identificar rapidamente o grupo criminoso (se não podes ter polícia em toda esquina tem, ao menos, um radar). E, por último: ir remendando socialmente, actuar com dimensão social relativamente ao planeamento urbano, à criação de perspectivas para os jovens, combater a exclusão social e o desemprego.
Estas serão, assim, as causas profundas do problema?
Claro que sim. E temos que actuar rapidamente porque o que está a acontecer ali pode acontecer noutro lugar do país. Na semana passada, o Observatório de Segurança e Criminalidade Organizada e Terrorismo versou o assunto e concluiu que a batalha só se ganhará com uma intervenção social nesses meios.