Tribunal de Alenquer condenou a Brisa a pagar uma indemnização aos pais de uma jovem que morreu, em Novembro de 1999, num acidente na A1.
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A juíza do Tribunal de Alenquer considerou que "a factualidade apurada permite afirmar com segurança a culpa efectiva da ré Brisa na omissão do cumprimento da sua obrigação de garantir a segurança da circulação, designadamente através da construção de vedações que não permitam a entrada na via de animais, mormente de grande porte como é o caso de um javali".
O acórdão refere que a Brisa "nem sequer provou genericamente ter cumprido as suas obrigações de vigilância e de conservação das redes laterais da via, uma vez que se apurou a existência de um espaço na parte de baixo da vedação, através do qual o javali se introduziu na via, espaço esse que no dia seguinte ao do acidente foi tapado", provando que "não se justificava que existisse naquele local, nomeadamente para evitar o entupimento de linhas de água".
António Oliveira, pai de Sandra, que tinha 28 anos à data do acidente, disse à Agência Lusa que a sentença "vem fora de tempo".
Declarando ter "pudor" em falar em dinheiro quando se trata da perda da sua filha, António Oliveira lamenta a atitude da concessionária, que, segundo ele, começou por lhe escrever uma carta dizendo que não tinha qualquer responsabilidade no acidente.
"Tiveram que engolir o sapo, de dizerem que estava tudo bem quando tudo estava mal", salientou, recomendando a quem recebe da Brisa a "carta tipo" com que habitualmente a concessionária responde, que a "rasgue" e arranje "coragem" para lutar contra um "gigante" e uma "máquina que não anda".
Além da morosidade da justiça, obrigando a "remexer" com sentimentos que magoam, António Oliveira considera incompreensível que o Instituto de Medicina Legal (IML) tenha demorado três anos a entregar o relatório sobre as causas da morte de Sandra, documento essencial "para não haver mais jogo de empurra".
Ainda houve uma tentativa de atribuição da responsabilidade pela morte de Sandra à viatura que vinha atrás e que embateu violentamente no seu carro, mas o documento do IML terá concluído pela gravidade das lesões provocadas pelo primeiro embate, disse.
António Oliveira espera também que a sentença leve outros a "ganhar coragem", obrigando a que haja "mais cuidado no futuro".
Durante o julgamento ficou a saber-se que "cerca de uma ou duas semanas" antes do acidente que vitimou Sandra "ocorreu pelo menos um outro acidente de viação com um javali, do qual a ré Brisa teve conhecimento", precisamente entre os quilómetros 30 e 39 da A1 - o embate de viatura da jovem com o javali ocorreu ao quilómetro 31,750.
Contactado pela Agência Lusa, o gabinete de relações públicas da Brisa informou que ainda está a decorrer o prazo para eventual recurso, pelo que a empresa está a analisar o processo e decidirá "oportunamente" se recorre ou não.