<p>Dos 52 arguidos 21 foram absolvidos. Elemento mais perigoso apanhou 11 anos e 9 meses.</p>
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O julgamento do denominado "Gangue da Lapa", que envolveu 52 arguidos, acabou, ontem, no Porto, com penas de prisão efectiva para 12 dos envolvidos numa série de crimes, entre 2006 e 2007. A pena maior foi de 11 anos.
A leitura da sentença do "Gangue da Lapa" atraiu, ao princípio da tarde de ontem, às portas do Tribunal de S. João Novo, no Porto, um grupo de populares, curiosos em conhecer as penas aplicadas a cada um dos arguidos. Contudo, foram poucos os que conseguiram um lugar na sala de audiências, onde o dispositivo policial era forte.
Logo no início da leitura do acórdão, um sussurro de satisfação varreu a sala ao ser conhecido que, dos 52 arguidos, 21 acabaram por ficar absolvidos.
Para além disso, das 31 condenações, duas compreendem penas de multa e 17 ficaram suspensas. Para tanto - como explicou o juiz-presidente durante a leitura da sentença - pesou o facto de a maior parte dos arguidos ter menos de 21 anos à data dos acontecimentos.
Por outro lado, o juiz explicou que para a atribuição das penas o tribunal considerou o depoimento dos ofendidos, intercepções telefónicas, impressões digitais e outros elementos de prova e regras de experiência.
"A prova, na maior parte dos casos, não é directa", mas assentou em "regras de experiência, sobretudo na interpretação feita das intercepções telefónicas", referiu.
De todos os arguidos, Pedro Campelo Fernandes, mas conhecido por "Campelo" e o que respondia pelo maior número de crimes, foi o que apanhou a pena mais pesada: 11 anos e nove meses de prisão efectiva.
Ricardo Fonseca, advogado de defesa de Pedro Fonseca, revelou aos jornalistas a sua intenção de recorrer da sentença.
"O cenário não era muito animador, devido ao elevado número de crimes. Contudo, as penas foram exageradas e ele acabou por ser condenado por demasiados crimes", salientou.
O causídico referiu que as provas apresentadas assentam em escutas telefónicas, e" isso é uma prova muito ténue". Ricardo Fonseca considerou, ainda, ter havido "excesso de zelo" por parte da investigação. "O processo deveria ter sido dividido em vários processos. Assim, teria sido muito mais simples para todos, todos teríamos sido beneficiados com isso", referiu.
Dos restantes arguidos, Bruno Brito teve pena de prisão efectiva de dois anos, enquanto Cláudio "Marreta", Márcio Cardoso e Paulo Ferreira foram condenados, cada um, a oito anos de prisão. Adriano "Macaco" ficou com sete anos de prisão.
As penas de prisão inferiores a cinco anos não são suspensas nos casos em que os arguidos já tenham condenações anteriores e apresentem condições sociais pouco favoráveis.
Tumultos no tribunal
Ao longo das diversas sessões do julgamento, distúrbios com os elementos do grupo que estavam presos foram registados no Tribunal de S. João Novo. Nas celas, inclusive, chegou a ser provocada uma inundação. Na realidade, foram poucas as sessões sem incidentes, quase todos sem gravidade e sanados no momento. Numa das audiências, dentro da sala, dois dos arguidos envolveram-se em discussão, que acabou em agressão física. Outro caso de maior gravidade foi o que envolveu quatro dos acusados e elementos da PSP, à entrada do tribunal.
Assaltos e "carjacking"
O chamado Gangue da Lapa é acusado de, entre 2006 e 2007, assaltar mais de 100 casas e automóveis na zona Norte, recorrendo por vezes ao método de "carjacking" com ameaça de armas de fogo.
Maioria muito jovem
Os elementos do gangue têm idades compreendidas entre os 18 e os 33 anos e residências repartidas pelas localidades de Águeda, Gaia, Gondomar, Matosinhos, Porto e Trofa.
354 crimes em causa
Apenas quatro dos elementos - Cláudio S. ("Marreta"), Márcio C., Pedro F. ("Campelo") e Adriano M. ("Macaco") - responderam por 103 dos 354 crimes em causa.