<p>A credibilidade externa do país será o único argumento que pode levar Sócrates a admitir deixar a chefia do Governo, mas só se a isso fosse "obrigado" pelo presidente da República. No PS, falta rumo e uma palavra do líder. </p>
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O cenário já estava a ser equacionado em surdina, mas ontem, em entrevista à Antena 1, o conselheiro de Estado António Capucho desafiou José Sócrates a demitir-se para prestar "um bom serviço" ao país e ao PS.
Capucho usou a palavra-chave, "credibilidade", que pode ser o argumento de Cavaco Silva para propor a substituição da chefia do Governo, num momento em que a imagem externa do país é crucial - nas vésperas da apresentação em Bruxelas do Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) para os próximos três anos. Na opinião do conselheiro social-democrata, a credibilidade do primeiro-ministro "desceu a um nível insuportável e indesejável".
A resposta a Capucho foi dada pelo ministro da Presidência, Silva Pereira, ao dizer que "esses assuntos resolvem-se nas eleições".
A ocorrer a substituição na chefia do Governo sem recurso a eleições, de acordo com fontes socialistas, só poderia passar por ministros, que, sendo do núcleo duro do Executivo, não tenham a credibilidade afectada. Estão na linha de sucessão os ministros de Estado, Teixeira dos Santos, Vieira da Silva e Luís Amado.
Por outro lado, fora do Governo, quem ambiciona disputar a liderança no futuro não estaria disposto a avançar numa "solução à Durão/Santana", como já admitiu António Costa, um desses putativos candidatos a líder do partido.
Internamente, o PS gostaria que o secretário-geral se dignasse a partilhar com a direcção o actual momento para dar um indicador da orientação a tomar em relação ao caso das escutas divulgadas pelo semanário "Sol".
"Porventura seria útil reunir, embora me pareça que o primeiro-ministro e o partido têm estado a responder correctamente. De qualquer modo, as reuniões dos órgãos são sempre importantes quando há questões relevantes como esta", disse ao JN o ex-porta-voz Vitalino Canas.
O JN confirmou com o secretário nacional adjunto para a organização, André Figueiredo, que "não está marcada" qualquer reunião da Comissão Nacional, o órgão mais representativo do PS.
Este desconforto é extensível à bancada onde o líder parlamentar, Francisco Assis, tem assumido o papel de defensor da honra do líder partidário, mas não consegue evitar o descontentamento de Sócrates nem sequer se ter reunido com os deputados para explicar o Orçamento do Estado, que negociou com a Direita. Há também quem considere que o Governo poderia resguardar-se, sem necessidade de fazer avançar os ministros Jorge Lacão (Assuntos Parlamentares) ou Silva Pereira (Presidência) na defesa de primeiro-ministro, se o PS tivesse nesta altura um porta-voz e uma posição oficial.
Já o secretário de Estado José Junqueiro desvaloriza o caso das escutas, enquanto Ricardo Rodrigues se interroga: "O que é que podemos fazer? É cometido um crime e não há nada a fazer!"
Rejeitada é que na cúpula do partido esteja discretamente a ser preparada a sucessão, embora haja também quem admita todos os cenários. Vitalino Canas é dos que negam a procura de um substituto para o lugar de Sócrates: "Neste momento o que o PS pretende é que as coisas corram bem, não está a pensar-se na sucessão do secretário-geral", assinala.