<p>O antigo ministro do Governo PS Armando Vara é acusado pelo Ministério Público de, a troco de 25 mil euros em notas e prendas de luxo no Natal, ter aceite fazer parte de uma máquina de fazer dinheiro à custa do Estado, montada pelo sucateiro Manuel Godinho.</p>
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De acordo com a acusação, a que o JN teve acesso, o suposto papel do ex-administrador do Millenniumbcp assentaria - a par, em especial, de Fernando Lopes Barreira, consultor e ex-membro da Fundação para a Prevenção e Segurança Rodoviária, no Governo de António Guterres - em exercer influências junto do ministro das Obras Públicas, Mário Lino.
O objectivo era a normalização das relações entre a O2, empresa de Godinho, e a Refer, empresa pública responsável pela gestão dos caminhos de-ferro em Portugal, à custa da qual o sucateiro ganhou milhões de euros, através de furto de materiais ferrosos e adulteração dos respectivos carregamentos.
O procurador responsável pelo caso "Face Oculta" refere a existência de diligências entre 2006 e 2009 junto de Mário Lino e a secretária de Estado Ana Paula Vitorino. Mas esta governante defendeu sempre o presidente da Refer, Luís Pardal, recusando demiti-lo por causa de um diferendo com o sucateiro, motivado, em especial, por causa de um caso de furto de carris em Macedo de Cavaleiros. Não a convenceu, sequer, o argumento de Godinho ser "amigo do PS", aventado por Lino.
O então ministro das Obras Públicas decidiu, então, interceder ele directamente e ordenou a Pardal que recebesse Manuel Godinho numa reunião. O que aconteceu em Agosto do ano passado.
Antes disso, além do Governo, as influências de Godinho tinham passado pelos "trabalhadores socialistas" da Refer, que chegaram ao ponto de se manifestar contra o presidente.
A suspeita de que, em troca dos favores a Godinho, Armando Vara terá recebido 25 mil euros baseia--se em dados circunstanciais que se iniciam com uma conversa telefónica, a 28 de Maio do ano passado, em que o empresário pergunta ao então administrador do BCP se já queria "25 quilómetros". Prossegue a 20 de Junho do ano passado, dia em que Armando Vara e Lopes Barreira almoçaram em casa de Godinho, em Ovar, e o empresário pediu, horas antes, à sua secretária que lhe arranjasse 50 mil euros em dinheiro vivo. Seriam 25 mil euros para cada um - é o que a acusação dá como adquirido.
Por causa destes factos qualificados como crimes de tráfico de influências e também pela detecção de uma lista de prendas de Natal, entre 2004 e 2007, em que Vara é classificado como personalidade "AAA" (a segunda mais importante), o MP exige que sejam declarados perdidos a favor do Estado os tais 25 mil euros e também, no caso de Vara, um "estojo decantador", uma caneta "Mont Blanc" e um relógio no valor de 1500 euros.
Em termos de montantes, o ex--ministro do PS é dos casos menos expressivos. Mais avultadas são as verbas recebidas, supostamente de forma ilícita, pelo advogado Paulo Penedos, filho do presidente da REN, José Penedos: quase meio milhão de euros.