A limitação de acesso à Internet nas escolas vai impedir os alunos de aprender matérias como os cuidados a ter nas redes sociais, prevista na disciplina de Tecnologias da Informação e Comunicação, alertaram os docentes.
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A denúncia foi feita pela Associação Nacional de Professores de Informática, depois de conhecer a decisão da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), de limitar o acesso a determinadas redes sociais e aplicações: o Youtube passou a estar "limitado a uma utilização máxima", enquanto Facebook, Instagram e Tumblr estão indisponíveis durante a manhã e com uso limitado à tarde.
Segundo a presidente da Associação Nacional de Professores de Informática (ANPI), Fernanda Ledesma, a maioria das aulas são de manhã, altura em que estas redes e aplicações estão bloqueadas. E, no programa do 8.º ano da disciplina de TIC, uma das matérias é precisamente sobre "redes sociais".
"A maioria dos alunos, quando chega às aulas, já está inscrita e sabe usar as redes sociais. As aulas não são para aprender a usar o Facebook, mas sim para ensinar a usar bem, porque é preciso educar para esta realidade digital", explicou Fernanda Ledesma em declarações à Lusa.
A disciplina de TIC pretende alertar os jovens para os perigos da Internet e das redes sociais e ensiná-los a "protegerem-se, a saberem configurar as suas privacidades e a explicar-lhes todos os cuidados a ter online".
À Lusa, o Ministério da Educação e Ciência garantiu que a DGEEC "está em contacto com a Associação de Professores de Informática, por forma a garantir que a lecionação da disciplina de TIC não é afetada".
No entanto, segundo Fernanda Ledesma, a limitação anunciada pela DGEEC na passada sexta-feira, também estará a preocupar os docentes de outras disciplinas. "Há muitos professores que usam o Youtube nas aulas para dar matéria através de vídeos. E vários já me disseram que estão preocupados com esta decisão", recordou.
A ANPI defende que o acesso à internet deve ser livre: "No entanto, na conjuntura atual, admitimos que se ponha um limite de utilização para não haver abusos, mas nunca bloquear o acesso".
Contactada pela Lusa, a Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas considerou que a limitação de acesso poderá ser benéfica em algumas situações, uma vez que há alunos que passam as aulas nas redes sociais.
A decisão da DGEEC foi tomada na sequência de vários ataques informáticos registados desde o início do ano, que provocaram uma deterioração da qualidade de acesso à Internet.
Segundo o Ministério, "a pressão sobre a rede decorria do acesso a determinados sites e aplicações que, de um modo geral, não se revestem de carácter pedagógico".
Sobre eventuais poupanças associadas à redução de acesso à internet, o Ministério garantiu à Lusa que "a limitação não representa qualquer poupança para o Ministério, nem qualquer ganho para a Portugal Telecom", a entidade que, neste momento, fornece o serviço.
"Quando a PT começou a fornecer o serviço, em 2008, a largura de rede era de 1Gb. Atualmente é de 6Gba", segundo informações do MEC. De acordo com a DGEEC, em breve haverá uma quase duplicação da largura da banda larga atualmente disponível.