O grito de dor de Clara ecoava ontem à tarde por Vale do Juncal: "Eu preciso do Carlos", repetia mal soube que uma das vítimas do acidente de Andorra era o seu companheiro.
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Carlos Duarte Campelo Marques, 23 anos, tinha recomeçado esta semana a trabalhar naquela obra para a empresa Ambicepol, com sede em Tuias, Marco de Canaveses. A morte do jovem deixa viúva a companheira e órfão um menino de três anos. Na casa do Juncal vive também o filho mais velho de Clara Maria, do primeiro casamento.
O pequeno Daniel foi a razão pela qual Carlos Marques pôs fim a um primeiro contrato com a empresa, há cerca de seis meses. "Ele dizia-me há dias que queria vir trabalhar para perto de casa para acompanhar o crescimento do filho. Para minha surpresa voltou para lá, para o antigo patrão", contou ao JN Manuel Campelo, tio da vítima.
"Foi na segunda-feira para lá, e disse que só voltava para o Natal, daqui a três semanas", atalhou, Madalena, sogra de Carlos.
Minutos antes, Paulo Pinto, dono da empresa Ambicepol, ao telefone de Andorra, explicava à viúva que ainda não sabia quando é que o corpo do companheiro virá para Portugal, porque as operações de resgate ainda não tinham conseguido chegar aos operários soterrados debaixo dos escombros.
O sogro da vítima dizia-se perdido porque não sabia o que fazer. "Só sabemos o que se passa pelo jornal e pela televisão", desabafou, com os olhos banhados em lágrimas. "O rapaz era uma companhia importante para a minha filha", deixou escapar Manuel Alves Pinheiro. Até ao final da tarde, a família enlutada desconhecia se a situação laboral de Carlos Marques estava acautelada. "Mal seria se assim não fosse", acrescentou a sogra.