A eurodeputada comunista Ilda Figueiredo lamenta que o Prémio Sakharov não tenha sido atribuído a uma organização que denuncia as "atrocidades" de Israel. A socialista Ana Gomes defendia a distinção da opositora etíope Birtukan Mideksa, assim como Miguel Portas, do BE.
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O dissidente cubano Guillermo Farinas, de 48 anos, foi escolhido pelos líderes dos grupos políticos do Parlamento Europeu face a dois outros finalistas: a opositora etíope Birtukan Mideksa e a organização não governamental "Breaking the silence", que dá voz a antigos soldados do exército israelita.
Em declarações à Agência Lusa, em Estrasburgo, Ilda Figueiredo escusou-se a dizer se considera o dissidente cubano merecedor do prémio, sublinhando antes os méritos de outras candidaturas, designadamente da organização não governamental "Breaking the silence", apoiada pelo Grupo de Esquerda Unitária, ao qual o PCP pertence.
"A questão é saber quem eram as organizações e as pessoas que estavam aqui propostas, e eu creio que, na actual situação, o mais justo teria sido atribuir a esta organização israelita de pessoas que estão a lutar contra a guerra, que têm denunciado as atrocidades e os atropelos cometidos nos territórios ocupados da Palestina", disse.
Para Ilda Figueiredo, a maioria dos deputados da assembleia "não quer enfrentar um país como Israel, que comete estas atrocidades contra os povos palestinianos, e então vira-se para quem é mais fácil".
Esta é a terceira vez em menos de dez anos que este galardão é atribuído a um indivíduo ou organização contra o regime cubano, depois do opositor Oswaldo Paya Sardinas em 2002 e das Damas de Branco, movimento de que reúne as mulheres e familiares de dissidente detidos, em 2005.
Nomeação originou libertação
A eurodeputada socialista Ana Gomes disse à Lusa que "qualquer um dos três candidatos finalistas era obviamente merecedor do prémio".
A eurodeputada considerou que, tendo o regime cubano "graves responsabilidades em violações de direitos humanos, noutros aspectos não tem o grau de gravidade que outros regimes têm", como o etíope, para mais um dos principais recipientes da ajuda da UE.
No entanto, Ana Gomes afirmou-se "muito satisfeita por a simples nomeação (de Mideska para o prémio) ter tido resultado concreto, ao ser suficiente para a sua libertação" e chamar a atenção para a situação de violações de direitos humanos no país, às quais, acusa, a UE tem "fechado os olhos".
A líder do principal partido da oposição etíope, condenada a prisão perpétua em Dezembro de 2008, foi libertada a 6 de Outrubro passado por decisão do presidente da Etiópia, um dia depois da sua nomeação para o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu, proposta por Ana Gomes, que conheceu pessoalmente Mideska em 2005, quando chefiou a missão de observação às eleições na Etiópia.
Prémio está a ser "instrumentalizado"
O eurodeputado Miguel Portas, do Bloco de Esquerda, discordou da atribuição do Prémio Sakharov a Guillermo Farinas, por considerar que o galardão está a ser "instrumentalizado" para "reacender guerras frias acabadas".
Para Miguel Portas, havia "propostas muito mais urgentes", considerando que era mais justo atribuir o prémio a qualquer das outras duas candidaturas finalistas, designadamente a de Birtukan Mideksa, líder da oposição "num país aonde a situação em matéria de direitos humanos é muito mais gritante, que é a Etiópia".
"Acho que o Prémio Sakharov não deve servir para reacender guerras frias acabadas e penso que, neste caso, a prioridade não foi a mais corretca. O regime cubano deve ser condenado em matéria dos direitos humanos, não tenho a menor dúvida sobre isso, mas tem dado alguns passos, e está a dá-los, e isto é uma decisão de um tempo que já passou", comentou.