O secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, considerou, esta terça-feira, que Portugal não tem professores a mais, mas sim governantes a mais, nomeadamente o ministro da Educação, Nuno Crato.
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"O que existe a mais no país neste momento não são professores, são as políticas deste Governo e os governantes. No caso da educação, claramente que Nuno Crato está a mais, ao contrário dos professores que estão a menos", disse Mário Nogueira à agência Lusa, em Viseu, onde está a participar em plenários de professores, com vista à mobilização para a greve geral de 14 de novembro.
Mário Nogueira mostrou-se confiante na adesão dos professores à greve geral, porque eles já perceberam que "só há uma maneira" de parar as políticas deste Governo, que é lutando e não ficar "de braços cruzados, à espera que passe o mau tempo".
Na sua opinião, está provado que "a austeridade não é o caminho certo, porque tem provocado problemas ainda mais graves", nomeadamente na classe docente.
"Temos pessoas de 40 e 50 anos a voltarem a casa dos pais, desempregadas, temos pessoas com filhos na universidade que além dos cortes salariais ficaram mesmo em situação de desemprego. Portanto, nós não estamos a ficar numa situação que é mais difícil, nós estamos a ficar numa situação que para muita gente é impossível", avisou.
O secretário-geral da Fenprof exemplificou com o regime de vinculação proposto pelo Ministério, "em que professores com 20 anos de serviço, que ganhando fora da carreira mil euros líquidos, às vezes nem isso, mas que com o tempo de serviço vão conseguindo ficar próximos das suas casas", têm, com o mesmo salário, de ser candidatos ao país inteiro.
"Em alguns casos esse dinheiro já não lhes vai ser suficiente para sobreviver. E, portanto, há muita gente que nem vai poder vincular, porque não tem dinheiro para entrar nos quadros", lamentou.
Mário Nogueira não estranha que professores com 30 e 40 anos de idade estejam a equacionar emigrar ou mudar de profissão para conseguir sobreviver. "Estamos a falar de gente que não tem bens, heranças e não tem nenhum padrinho no Governo. Percebemos esta reação das pessoas, mas também pensamos que, mais do que de imediato decidir mudar de profissão ou emigrar, têm que lutar pelo direito a ter uma profissão no seu país", frisou.
Lembrou que este desemprego "não resulta do facto de haver menos alunos", porque, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), embora haja menos crianças em Portugal, há mais alunos nas escolas e, "nos próximos anos, eles vão continuar a aumentar por força do alargamento da escolaridade obrigatória".
Lamentou que o Ministério da Educação tenha tomado medidas "propositadamente para por gente na rua e provocar horários zero nos professores", que quer repetir em 2013, como os mega agrupamentos, a revisão curricular e aumento do número de alunos por turma.
"À custa da qualidade do ensino o Ministério vai pondo gente fora. Aquilo que nós temos de dizer é que defendemos condições de trabalho e condições que levem a que o ensino em Portugal tenha mais qualidade e não menos", realçou.
Depois de Viseu, os plenários de professores vão continuar a realizar-se em todo o país, estando já previstos para Aljustrel, Beja, Faro, Albufeira, Castelo Branco e Braga.