O delegado da Igreja Católica Alemã para a investigação dos casos de abusos sexuais de menores reconheceu, pela primeira vez, que houve "ocultação" por parte do clero de alguns destes delitos, em declarações publicadas hoje, quarta-feira, no Rhein Zeintung.
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"Pelo que sabemos agora, houve ocultação, temos de o reconhecer dolorosamente, preocupámo-nos demasiado com a imagem da Igreja e de determinadas instituições", afirmou o prelado.
Nos locais "onde não havia vontade de esclarecer os casos, os autores dos delitos foram apenas transferidos e temos de reconhecer que houve ocultação de uma série de casos", disse Ackermann, nomeado há duas semanas pela Conferência Episcopal Alemã para investigar o escândalo de pedofilia em instituições da Igreja, que começou com revelações do reitor de um colégio jesuíta de Berlim, no mês passado, e alastrou entretanto a vários pontos do país.
Simultaneamente, Ackermann defendeu o Papa Bento XVI contra acusações de ainda não se ter pronunciado sobre os casos de pedofilia na Igreja alemã.
"É injusto dizer que o Papa não tem sido claro nesta questão", disse o bispo germânico, lembrando que na audiência que concedeu ao presidente da Conferência Episcopal Alemã, Robert Zollitsch, na sexta feira passada, no Vaticano, Bento XVI "insistiu na via do esclarecimento" dos casos de pedofilia.
Ackermann adiantou ainda que tenciona concluir "rapidamente" o inquérito de que foi encarregado e anunciou que a Igreja católica alemã aprovará "ainda este ano" novas directivas sobre casos de pedofilia e até lá definirá também formas de indemnizar as vítimas.
O bispo recusou ainda estabelecer qualquer conexão entre o celibato e os casos de abusos sexuais de menores, sublinhando que "as anomalias sexuais surgem cedo, não são desencadeadas por uma promessa que um homem faz", em referência ao voto de castidade dos sacerdotes.
Entretanto, o cardeal Joachim Meissner, de Colónia, uma das mais altas figuras da Igreja alemã, afirmou, em carta às ordens da sua diocese, que nos seus 48 anos de sacerdócio nunca viveu "tempos tão difíceis para a Igreja".
O cardeal disse ainda ter ficado "desesperado e inconsolável pela tristeza, a dor e a ira causada pelo terrível fracasso de alguns sacerdotes e outros funcionários da Igreja".