A tuberculose baixou cerca de 6% em 2012, comparativamente ao ano anterior, mas Portugal ainda não é considerado um país com baixa incidência, segundo dados provisórios da Direção-Geral da Saúde.
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"Os dados provisórios de 2012 parecem apontar para uma redução de cerca de 6,1%, relativamente à taxa de incidência definitiva de 2011", disse Raquel Bessa de Melo, numa resposta escrita enviada à Agência Lusa, a propósito do Dia Mundial da Tuberculose, que se assinala no domingo.
Segundo a especialista, Portugal ainda continua acima da fasquia da baixa incidência (20 casos por 100 mil habitantes), "apesar de se aproximar dela a cada ano que passa".
Em Portugal, em 2011, as autoridades apontavam que o país se situava nos 21 casos por 100 mil habitantes, embora sublinhassem que o país tem vindo a descer a um ritmo mais acelerado do que a União Europeia, prevendo-se o alcance rápido dos níveis europeus.
Também a incidência de "tuberculose suscetível e multirresistente tem diminuído de forma consistente ao longo dos anos".
Só Beja registou aumento de casos
Porto, Lisboa, Setúbal, Beja e Faro são os distritos com maior incidência e "responsáveis por estarmos acima dos 20 por 100 mil", afirmou, acrescentando que Beja foi o único distrito a aumentar a incidência no último ano.
No entanto, advertiu, "a taxa de confirmação e a taxa de sucesso têm vindo a diminuir nos últimos anos, podendo pôr em causa, nos próximos anos, os bons resultados a que temos vindo a assistir até à data".
Segundo Raquel Bessa de Melo, a incidência de tuberculose multirresistente (TBMR) no país tem vindo "a diminuir de forma consistente nos últimos anos, mais evidente desde 2008, apresentando Portugal valores sobreponíveis aos outros países da Europa ocidental".
"Apesar disso, continua a haver uma proporção preocupante de casos extremamente resistentes entre as formas multirresistentes", observou. Para a resolução deste problema, foram criados, em 2008, os centros de referência regionais de TBMR que, excetuando em Lisboa, estão em funcionamento desde essa altura. A médica avançou que o Centro de Referência de TBMR em Lisboa "está em fase de arranque".
Abordagem conjunta tuberculose/VIH
Salientou ainda que "Portugal continua a apresentar uma taxa de co-infeção TB/VIH das mais altas da Europa Ocidental".
Para reverter esta situação, a especialista defendeu uma abordagem conjunta destas duas patologias e o rastreio de tuberculose nos doentes infetados por VIH, com tratamento preventivo dos infetados, assim como o rastreio de infeção com VIH na população doente com tuberculose, com a respetiva orientação.
Para Raquel Bessa de Melo, uma "redução mais eficaz" da tuberculose na comunidade exige uma "deteção precoce" do caso e do diagnóstico e o tratamento célere do doente, "cortando a transmissão da doença na comunidade".
Exige ainda o rastreio das populações de risco para prevenir futuros casos de tuberculose. Segundo a especialista, as grandes cidades continuam a ser os locais de maior incidência da doença e os adultos jovens o grupo etário mais afetado nos últimos anos. "A maior incidência neste grupo etário traduz infeção recente na comunidade", explicou.
Questionada pela Lusa, sobre se a situação de crise que o país atravessa pode agravar o número de casos em Portugal, a médica afirmou que "é reconhecido o papel que as conturbações sociais têm na tuberculose".
"Situações de desemprego, pobreza e sobrepopulação têm estado, no passado, associados a um aumento da tuberculose na comunidade", sustentou.