Três dias após a edição do "Charlie Hebdo" produzida pelos sobreviventes do ataque ao jornal satírico, os quiosques de Paris continuavam a afixar a mensagem "Plus de Charlie" ("Charlie esgotado"), enquanto na internet há quem faça negócio com o jornal.
Corpo do artigo
Três dias após a edição do "Charlie Hebdo" produzida pelos sobreviventes do ataque ao jornal satírico, os quiosques de Paris continuavam a afixar a mensagem "Plus de Charlie" ("Charlie esgotado"), enquanto na internet há quem faça negócio com o jornal.
Esta sexta-feira, as filas começaram antes de as bancas abrirem e foram centenas os que passaram, até ao meio da tarde, para perguntar "Se ainda há Charlies", contou à Lusa Sebastião Cangui, gerente do quiosque de Daumesnil, no leste de Paris.
"Ontem recebi 40 cópias, hoje 90. Em 15 minutos desapareceu tudo. Ainda havia filas de 50 a 60 pessoas esta manhã, mesmo antes de abrir", descreveu o comerciante de origem angolana.
Danielle Briot, que há três dias passa nos quiosques para tentar comprar a edição número 1178 do jornal disse que "há pessoas a ganhar muito dinheiro com isto".
A parisiense de 72 anos criticou as vendas da histórica edição do jornal no site "ebay" assim como a venda de desenhos autografados de Cabu, um dos cartoonistas mortos no ataque, também no 'ebay'.
Na versão francesa do site de vendas online, o preço do "Charlie Hebdo" desta semana - que custa 3 euros nos quiosques - varia entre os 30 e os 40.000 euros. Depois, há outras edições históricas que chegam aos 50 mil euros, como a de 2 de novembro de 2011 intitulada "Charia Hebdo" em que, no desenho, Maomé promete "100 chicotadas a quem não morrer de riso".
Depois de criticar "os negócios que se fazem às custas do Charlie Hebdo", Danielle Briot continuou: "Houve pessoas que se agrediram nas filas dos quiosques! Mas os distribuidores de imprensa não são estúpidos e vão continuar a imprimir enquanto houver vendas. Vou continuar a passar no meu quiosque e se não conseguir comprar o Charlie não faz mal porque comprei "Le Canard Enchainé" onde o Cabu também trabalhava".
O gerente do quiosque, Sebastião Cangui, também notou que o "Libération" e o "Le Canard Enchainé" duplicaram as vendas desde quarta-feira.
Christian Liard, de 64 anos, é leitor assíduo do "Libération" e louvou à Lusa "tudo o que o 'Libé' fez pelo Charlie, incluindo receber os jornalistas".
O reformado parisiense promete voltar ao quiosque no sábado porque quer ter a edição desta semana do Charlie já que "acompanhava os desenhos de Cabu há 50 anos".
Odile Faur, de 75 anos, já tem o exemplar desta semana do "Charlie" porque na quarta-feira conseguiu comprá-lo às seis da manhã, mas agora quer comprar mais duas cópias para as filhas.