A desmotivação do pessoal das Forças Armadas e a capacidade operacional insuficiente são as consequências mais visíveis das restrições financeiras sofridas pelo país, ao fim de três anos de austeridade, defendeu o general Loureiro dos Santos.
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"É claro que essas medidas (de austeridade) estão a refletir-se numa menor capacidade operacional das Forças Armadas. Neste momento há exercícios militares que deixaram de se fazer, há treinos de pilotos que não são efetuados. Há missões navais que diminuíram, mesmo as rotineiras mas que são essenciais em termos de garantia de controlo do nosso espaço aéreo, marítimo e terreste", afirmou Loureiro dos Santos.
Loureiro dos Santos falava em entrevista à Agência Lusa, a propósito do fim do programa de ajustamento financeiro, assinado a 17 de maio de 2011, e que o Governo tem reiterado que termina no próximo dia 17 de maio.
O "Memorando de Políticas Económicas e Financeiras", de 17 de maio de 2011, estabelecia a redução do número de trabalhadores da defesa e as despesas com pessoal em, pelo menos, 10%, durante o período entre 2011 e 2013".
As medidas de redução de efetivos e de despesa com o pessoal foram alcançadas ainda antes do fim do programa de ajustamento, mas as restrições orçamentais tiveram grandes impactos a vários níveis nas Forças Armadas, atingindo a motivação e "o moral dos militares", sublinhou Loureiro dos Santos.
"O sistema de forças e a capacidade operacional que nós temos (...) está a ser afetada muito pela moral, pela desmotivação do pessoal que é traduzido nessas manifestações, nesses lamentos, nessas queixas. Essas queixas resultam do facto de haver tudo isto e além do mais as pensões dos militares na reforma e na reserva estarem a ser afetadas", disse.
Motivos de descontentamento são a extinção do Fundo de Pensões, a reorganização da saúde militar, as carências sentidas pelo Instituto de Apoio Social das Forças Armadas, apontou.
Loureiro dos Santos afirmou que a capacidade operacional atual "é insuficiente" o que aumenta os riscos de impreparação no caso da necessidade de responder a uma ameaça, mesmo que não seja de natureza militar.
"Se houver um terramoto em Lisboa não temos capacidade de controlar a anarquia e o caos resultante do terramoto, são precisas forças militares. É o que acontece em todo o mundo quando há grandes catástrofes. A primeira vez que foram utilizadas as Forças de Reação Rápida da NATO foi no furacão Katrina (EUA, 2005)", sublinhou.
"Nós, para estas questões estamos desarmados, ponto final parágrafo", disse.
Quanto à Lei de Programação Militar, cuja revisão deverá ser apresentada "ainda este ano" de acordo com o ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, o ex-chefe do Estado-Maior do Exército defendeu que a prioridade deverá ser "repor os equipamentos que deixaram de ser adquiridos por necessidade de cortar despesas", sobretudo os equipamentos destinados "às missões normais e rotineiras das Forças Armadas".
"Missões de controlo do espaço marítimo e controlo do espaço aéreo. E, dentro do Exército aquilo que é essencial, nós estamos a combater no Afeganistão com viaturas blindadas emprestadas. Não pode ser. Nós temos de ter, à nossa dimensão, as nossas capacidades, por modo que os nossos militares da Marinha e da Força Aérea e do Exército sejam capazes de responder", defendeu.