Os traficantes de droga mexicanos conseguiram reduzir a Imprensa ao silêncio em várias regiões do país, com a sua política de terror contra jornalistas incluindo recentes assassinatos particularmente atrozes, noticia a agência AFP.
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Durante os últimos cinco anos, "o poder dos traficantes de droga reduziu ao silêncio uma grande parte do jornalismo nacional", afirmou o presidente da Fundação de Jornalismo Buiendia e diretor da Revista Mexicana de Comunicação, Raul Omar Martinez, à agência noticiosa AFP.
Na semana passada, os cadáveres desmembrados de três fotógrafos foram descobertos, envolvidos em sacos de plástico, num canal na zona metropolitana de Veracruz, um porto no Golfo do México. Alguns dias antes, foi Regina Martinez, correspondente no Estado de Veracruz do semanário nacional "Proceso", a ser encontrada estrangulada na sua residência.
Próximos dos assassinados garantem que os fotógrafos foram assassinados depois de terem sido convocados para um encontro. Um deles, Gabriel Huge, entregou a sua máquina fotográfica à sua irmã Mercedes antes de comparecer. "Eu penso que ele sabia o que o esperava", confiou Mercedes no dia do funeral do irmão.
Um jornalista local adiantou, sob anonimato, que as "convocações" de profissionais da comunicação social são uma prática dos traficantes de droga. Umas vezes, dão-lhes ordens sobre o que podem publicar, outras vezes agridem alguns, perante outros, por recusa de obediência. Os jornalistas comparecem frequentemente às "convocações" por receio de represálias contra as suas famílias.
O Estado de Veracruz tornou-se desde 2008 um campo de batalha entre o cartel de Sinaloa e o dos Zetas. Tornou-se também, segundo os Repórteres Sem Fronteiras, um dos 10 locais mais perigosos do mundo para o exercício da profissão de jornalista. Desde o início de 2011, já aí foram assassinados oito.
O Comité de Proteção de Jornalistas (CPJ), baseado em Nova Iorque, atribui a situação no Estado de Veracruz a uma "combinação de negligência e de corrupção generalizada entre as forças de segurança".
Os Zetas, considerada a organização criminosa mais violenta do México, já tinha imposto a sua lei aos jornalistas no seu Estado de origem, o Tamaulipas, no Nordeste do México.
Situação idêntica ocorre em Ciudad Juarez, cidade fronteiriça com os EUA, no Estado de Chihuahua. Em setembro de 2010, depois do assassínio de outro fotógrafo, o jornal "El Diario de Juarez" publicou um editorial, dirigido diretamente aos traficantes de droga, onde perguntava: "O que querem de nós? Que desejam que publiquemos ou que não publiquemos, para saber o que temos de fazer?"
Dias depois, o presidente mexicano, Felipe Calderon, anunciou um plano de proteção de jornalistas, mas os assassinatos continuaram.
A Comissão mexicana dos Direitos do Homem quantifica em 79 os jornalistas assassinados e em 14 os desaparecidos desde 2000.
Com uma impunidade estimada em 98,5%, as agressões aos jornalistas vão continuar, prevê o diretor da Amnistia Internacional no México, Alberto Herrera.