Ian Frazer, um dos criadores da vacina que previne o cancro do colo do útero resultante da infeção pelo vírus do papiloma humano (HPV), garante que a vacina é "bastante segura" e defende que a mesma deveria ser administrada também a rapazes.
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No Reino Unido, no entanto, alguns jornais, como o "Express", publicaram recentemente um estudo em que garantiam que milhares de mulheres sofreram complicações médicas graves depois de lhes ter sido administrada a vacina contra o HPV.
"É ridículo. Não há qualquer prova de que a vacina cause doenças graves e quem espalha essas histórias não tem noção das consequências do que está a fazer. Está a acontecer no Reino Unido a mesma coisa que aconteceu quando se implementou a vacina contra o sarampo, que as pessoas acreditavam que causava autismo. Também houve pânico quando introduziram a vacina contra a Hepatite, com muitos a dizerem que causava esclerose múltipla", garantiu ao JN o investigador australiano.
"Se as pessoas não querem vacinar os seus filhos, tudo bem. Se querem colocar as suas crianças em risco, é problema seu. Mas a realidade é que já vacinamos mais de 125 milhões de pessoas... se houvesse algum tipo de complicação resultante da vacina, já o saberíamos", acrescentou.
"O problema é simples: ocasionalmente, as raparigas com 12 anos podem ter doenças graves, coisa que sempre aconteceu, com ou sem vacina. Agora, e como a vacina é nova, sempre que alguma rapariga entre os 12 e os 20 anos tem algum problema grave, as pessoas automaticamente assumem que foi a vacina que causou tudo isso. Culpam a vacina porque é uma nova vacina, mas nenhuma doença se tornou mais frequente desde que a vacina foi implementada", assegura.
"Praticamente todas as jovens mulheres na Austrália foram vacinadas desde 1997. Se alguma coisa estivesse a correr mal, já saberíamos. Além disso, quem diz que a vacina causa doenças ainda não foi capaz de o provar, até porque a vacina não é composta por um vírus vivo. É só uma proteína, como quase todas as restantes vacinas administradas a crianças. Se acham que a vacina pode ser perigosa, pensem no quão perigosa pode ser a infeção", remata.
O investigador defende, ainda, que não só as raparigas deveriam ser vacinadas contra o HPV, mas também os rapazes, pois "também podem ter episódios de cancro resultantes do vírus e podem infetar as raparigas". "Para além disso, nos países em desenvolvimento as pessoas suspeitam sempre de medicamentos administrados apenas a um grupo específico da população. Neste caso, se tentamos administrar a vacina só a raparigas a população fica preocupada e pensa que estamos a tentar esterilizar as mulheres. Uma vacina administrada a toda a gente seria mais socialmente aceitável", afirmou.
O investigador está em Paris para a décima edição do "European Inventor Award", onde estava nomeado na categoria que homenageia inventores não-europeus, mas acabou por vencer o Prémio Popular, atribuído pelo público. Frazer recebeu o prémio na manhã desta quinta-feira, acompanhado pela víuva de Jian Zhou, o cocriador da vacina, já falecido.