O secretário-geral do PCP garantiu, esta segunda-feira de manhã, que não houve contacto com o Partido Socialista para renovar a solução de Governo acordada há quatro anos. A afirmação surge após António Costa ter dito no domingo, numa entrevista à RTP, que o PCP e o BE não se comprometeram em "assegurar condições de governabilidade" para a próxima legislatura.
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Jerónimo de Sousa considerou que, em primeiro lugar, é necessário saber qual será a arrumação dos 230 deputados na Assembleia da República, após as eleições de 6 de outubro. Só depois se poderá pensar em "soluções institucionais".
Utilizando a máxima repetida ao longo da campanha eleitoral, o líder comunista sublinhou que, "se for para avançar, lá estará o PCP e a CDU". Até lá cabe aos "decisores", o povo português, escolher quem vão eleger. E há mais: "se for para andar para trás", os comunistas estarão "contra".
Jerónimo de Sousa reforçou a ideia de que a CDU está disponível para "dar uma contribuição para que as coisas continuem a avançar", nomeadamente na defesa dos "interesses dos trabalhadores e do povo". "Não estamos disponíveis para aquilo que alguns, designadamente o próprio PS, afirma que quer libertar-se de qualquer constrangimento, ou seja, uma maioria absoluta para não depender de ninguém".
O líder comunista insistiu na divergência com o Partido Socialista no que diz respeito às alterações ao Código de Trabalho que entram na terça-feira em vigor e "não defendem os direitos individuais e coletivos dos trabalhadores".
"Não queremos ir para o Governo porque queremos ser o Governo. Não. Nisso não contam com o PCP. Nós seremos Governo quando o povo português entender e não o PS, naturalmente, e perante a prova, perante projeto, perante proposta, agiremos em conformidade", concluiu.
CDU quer fazer história e eleger em Viseu
A segunda semana de campanha eleitoral arrancou num terreno pouco fértil para a CDU. Em Viseu, Jerónimo de Sousa e Miguel Tiago, cabeça de lista pelo distrito, querem mudar o rumo da história e eleger o primeiro deputado comunista. Há "confiança".
O dia começou cedo, numa aldeia isolada e com um passado mineiro. O secretário-geral do PCP e o ex-deputado da CDU visitaram as casas dos ex-trabalhadores das minas de Urgeiriça, na freguesia de Canas de Senhorim, e apelaram à necessidade da reconstrução das moradias "que vão contra a saúde pública" de quem lá vive, devido à contaminação de urânio da antiga mina.
Jerónimo de Sousa reconheceu que o processo já começou, mas está lento. O líder comunista deu voz aos ex-trabalhadores que reivindicam a construção de um museu de memórias de uma mina "que custou a vida a tanta gente". "Seria bom para a população, mas também em defesa da nossa memória coletiva, não é o primeiro caso em que isto aconteceu, onde se recuperou esta ideia e, por isso mesmo, nós consideramos que é uma batalha a travar tendo em conta o interesse da população e da própria região no plano da dinamização económica, social, turística", afirmou.
Mas há "outras batalhas" a travar no concelho de Nelas. O secretário-geral do PCP viajou uma vez mais de comboio, desta vez num regional da Linha da Beira Alta. Na estação de Canas-Felgueira, o anúncio sonoro avisou do atraso. Mais cinco minutos de espera. A viagem do líder comunista foi pouco demorada - apenas três minutos até à Lapa do Lobo - para denunciar um problema de longa duração: um apeadeiro desnivelado que impede a população mais idosa de conseguir apanhar o comboio.
E eis que ao nono dia de campanha eleitoral, Jerónimo de Sousa foi recebido pelo "povo lutador" da Lapa do Lobo e passeou pela freguesia com a comitiva da CDU. A cada passo, um beijinho, um abraço, um sorriso. O contacto com a população - o mais evidente desde o arranque da campanha - teve um objetivo: reconhecer a insistência da população que conseguiu voltar a ter mais comboios a passar no apeadeiro da Lapa do Lobo. Agora, a luta é requalificar o apeadeiro de difícil acesso para as pessoas mais idosas e com mobilidade reduzida.
"Esta é outra batalha que estão a travar e por isso mesmo, a nossa satisfação por estarmos aqui perante um povo lutador que durante anos insistiu, insistiu, até conseguir já meia vitória. Agora falta vitória completa que é de facto a requalificação do apeadeiro", disse Jerónimo de Sousa, rodeado pelos habitantes da freguesia.
O secretário-geral do PCP aproveitou também para denunciar a "anomalia" existente na cidade de Viseu e exigiu mais investimento na rede ferroviária. "Deve ser das poucas cidades da Europa que não tem via ferroviária, que não tem ligação à Rede Nacional Ferroviária. Não se entende. Há um esforço para a Linha da Beira, mas a própria cidade está isolada, com todas as consequências económicas e sociais, isolada de um transporte de futuro", considerou.
Miguel Tiago quer levar Viseu para dentro do Parlamento
O ex-deputado da CDU, que sempre concorreu pelo distrito de Setúbal, quer voltar ao Parlamento e promete dar voz a um Viseu esquecido. Miguel Tiago lembrou que é a "população o protagonista principal da história" e que "as votações contam-se eleição a eleição" e "não passam de umas eleições para as outras".
"Estamos convencidos que a seu tempo [a população] perceberá que o distrito de Viseu está marcado ainda hoje por alguma ostracização, por atraso, precisamente por causa das escolhas das pessoas que escolhem PS, PSD e CDS, que chegam ao Parlamento para fugir de Viseu, e nós queremos fazer o contrário, queremos levar Viseu para dentro do Parlamento", afirmou o cabeça de lista.