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A música dos GNR “Quero ver Portugal na CEE” transmitia, em 1982, uma enorme ânsia por parte dos portugueses relativamente à saída do país de um certo marasmo cultural e económico. As famílias estavam habituadas a ter uma ou duas escolhas para vários produtos de consumo. Quem não se lembra do 8x4 desodorizante, das camisas Victor Emmanuel, do restaurador Olex para cabelo, da pasta medicinal Couto ou das peúgas CD? Essas e outras marcas simbolizavam, na realidade, uma escolha limitada. As viagens de carro eram uma dor de cabeça devido ao escasso desenvolvimento rodoviário e os dois canais de televisão afunilavam a nossa visão do Mundo.
O tempo passa num instante e já lá vão 40 anos desde que Portugal assinou o tratado de adesão às comunidades europeias. Há duas perspetivas possíveis na altura de fazermos balanços: olhar para o que está mal atualmente, mesmo que discordemos quanto à hierarquia dos problemas, ou então comparar o presente com o nosso estado há quatro décadas e imaginar o que seria do país se não tivesse agarrado com as duas mãos a oportunidade de entrar numa espécie de “clube portuense” (particularmente exclusivo na Invicta) dos europeus.
Num interessante debate organizado pela CCDR-N, em parceria com o JN e TSF, Valente de Oliveira, que teve grandes responsabilidades na gestão dos primeiros fundos europeus, e Ricardo Rio, 35 anos mais novo e atual presidente da Câmara de Braga, colocaram esse balanço em perspetiva. No início da aventura europeia, a rodovia e o saneamento básico estavam entre as principais prioridades, quer dos governantes quer dos autarcas. Portugal pode não ter sido um aluno de 20 valores, mas aproveitou e hoje não chora como os ingleses, que viraram as costas a um “clube” que, não sendo milagroso, é capaz de nos salvar de bancarrotas e de pandemias.