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Hoje, na hora da despedida, esta coluna precisa de celebrar uma vida extraordinária que sempre se expressou em português. Aos 82 anos, o comendador António dos Ramos, que se enamorou do Brasil nos anos 50 do século XX, e por mais de meio século foi um dos senadores da presença portuguesa em São Paulo, partiu.
O menino António nasceu em Portugal, numa pequena aldeia chamada Vilarelho da Raia, a apenas 200 metros da fronteira com Espanha. Esse topónimo, “Raia”, já indiciava para o futuro comendador uma condição de passagem, de transição, que havia de o acompanhar durante toda a vida.
Ele pôde testemunhar as transformações políticas, sociais e culturais mais importantes e definidoras da matriz das nossas sociedades. A imigração portuguesa para o Brasil na década de 1950 foi tão significativa como hoje é a imigração de brasileiros para Portugal, com milhares buscando uma nova vida no país irmão.
Em terras brasileiras, António dos Ramos foi presidente da Casa de Portugal em São Paulo por mais de três décadas, e dedicou à instituição quase centenária, situada no austero e majestoso edifício de granito na Avenida da Liberdade, a parte mais sonora da sua vida.
Como o próprio edifício, Ramos também era um símbolo importante da presença portuguesa no Brasil - ele personificava o passado, o presente e o futuro das relações entre Portugal e Brasil. O seu desaparecimento, no passado dia 26 de julho, não é uma simples notícia, mas um marco histórico que convida a refletir.
A trajetória de Ramos é um exemplo inspirador para todos nós, de um lado e de outro do oceano, que hoje buscam entender e valorizar a nossa história e cultura, em uma nova era onde a língua que nos une é muito mais do que um mero instrumento de comunicação, mas uma verdadeira cidadania comum.