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Todos, todos, todos. Todos na cena pública transladaram a morte do Papa Francisco para o plano social e político, em Portugal, desde logo nos discursos do 25 de Abril, e no estrangeiro, onde também se multiplicam exemplos. Discordo da ideia de haver aproveitamento. É natural sentirmo-nos tocados pela partida de alguém que conseguiu, em medidas idênticas, ser tão revolucionário como consensual, tornando-se na personagem mais omnipresente da última década. Essa parece-me ser a explicação para este sentimento avassalador de identificação com Francisco. Mas a margem de aprovação é tão larga que seria impossível manter os níveis de genuinidade: em qual André Ventura ou Javier Milei devemos acreditar? Há qualquer coisa de crocodilo na hora de chorar a morte. Adiante. O homem que nasceu Jorge e morreu Francisco merece ser lembrado pela obra e não por aquilo que o Mundo politizado debita sobre a obra. Vamos aos factos. Este é o legado da coerência. Crentes ou não crentes, gostando mais ou menos, Francisco percorreu um trajeto e deixou-nos uma mensagem coerente com a Bíblia. Na figura de Maria Madalena podemos vislumbrar todos os excluídos aos quais o Sumo Pontífice abriu as portas da Igreja. Dos divorciados aos homossexuais, dos pobres às vítimas de abusos, dos migrantes aos mártires da guerra. Este alinhamento com a mensagem de Cristo justifica a sensação de desconforto na hora da despedida. Até porque a revolução na Igreja nunca estará completa sem o papel da Mulher ser redimensionado. Quem se seguirá? Sobressalto. Que seja alguém com o mesmo desprendimento que Jorge, homem sensível e simples, trouxe colado à pele desde um bairro de Buenos Aires. Viva o San Lorenzo!