A confusão instalou-se, no domingo, com as siglas inscritas no boletim de voto. A Aliança Democrática (AD), que reuniu mais votos, pediu à Comissão Nacional de Eleições (CNE) que dirigisse ao país um "apelo ao voto esclarecido devido à semelhança de nomes parecidos nos boletins de voto".
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Sem demoras, o partido Alternativa Democrática Nacional (ADN) avançou com uma queixa à CNE naquilo que considerou ser "publicidade" dirigida ao "voto na AD, através dos meios de comunicação, com a desculpa de que estão a existir enganos entre ADN e AD". A CNE considerou o "debate fora do tempo", sublinhando que "tanto o registo como a produção do boletim de voto cumpre rigorosamente o que está registado no Tribunal Constitucional" (TC). Questionado pelo JN já na manhã desta segunda-feira, fonte oficial do TC fez saber não ter dado "entrada qualquer queixa relativa à questão das siglas no boletim de voto, até ao momento".
Num acórdão datado de 8 de janeiro deste ano, que analisou o pedido apresentado por PPD/PSD, CDS-PP e PPM para anotação da coligação eleitoral Aliança Democrática, concluiu o Tribunal Constitucional que a "denominação, a sigla e o símbolo da coligação que ora se aprecia não incorre em ilegalidade (...), não se confundindo com os correspondentes elementos de outros partidos ou de coligações constituídas e não adotando sinais proibidos". Acresce, vincava o TC na sua deliberação, "que o símbolo e a sigla são compostos, respetivamente, pelo conjunto dos símbolos e das siglas dos partidos que integram a coligação, reproduzindo-as rigorosamente". Determinando, assim, "a correspondente anotação".
Com 100.044 votos, dez vezes mais face às legislativas de 2022, o ADN assumiu-se mesmo como a quarta força política em Vila Real, Bragança e Viseu. Em declarações ao JN na manhã desta segunda-feira, Bruno Fialho, líder do partido, criticou a AD por "usar este subterfúgio para chamar mais votos a si". "Durante 50 anos ninguém se enganou e agora, de repente, os portugueses emburreceram, pelas palavras de outro partido". Para Bruno Fialho, os resultados alcançados, e que comparam com 10.911 votos conseguidos há dois anos, resultam de "um esforço enorme de um grupo de voluntários a trabalhar há três anos em prol do ADN". Revelando que "as pessoas ainda acreditam em causas". Num partido que "luta pela verdade e pelo contraditório". E que, sublinhou ainda, "não tem receio de expôr a fraude climática, da ideologia de genéro e a fraude da economia".
Ligações a evangélicos
Para o constitucionalista Pedro Bacelar Vasconcelos, “a votação surpreendente do ADN pode, em parte, ter sido devida a essa confusão”. Mas, “sobretudo”, por outras “explicações, como as ligações a grupos evangélicos”, “hipóteses com consistência”, explicou ao JN.
O antigo deputado socialista não vislumbra “que possa ter quaisquer consequências a denúncia tardia de semelhança entre respetivas siglas”. Defendendo que “se tirem lições, no futuro, para garantir que não haja confusão para os eleitores”. Se bem que, neste caso, “ADN é uma coisa diferente de AD, remete para a nomenclatura genética”, disse.
Em fevereiro, a Aliança Evangélica Portuguesa (AEP) apelou, em comunicado, ao voto nas eleições legislativas, mas pediu que o púlpito não fosse utilizado como instrumento partidário.
Do PDR de Marinho e Pinto ao ADN de Bruno Fialho
Inscrito no TC a 11 de fevereiro de 2015 com a denominação de Partido Democrático Republicano, sob a liderança do antigo bastonário dos advogados Marinho e Pinto, passou a designar-se Alternativa Democrática Nacional (ADN) no final de setembro de 2021. Na primeira ida às urnas, em 2015, arrecadou quase 60 mil votos, mas quatro anos volvidos perdeu 80% dos mesmos. Em 2020 a liderança é assumida por Bruno Fialho, antigo dirigente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil. Na pandemia, insurgiu-se contra as medidas adotadas para conter a covid.