A caixa negra com o gravador de voz do cockpit do avião que caiu nos Alpes foi encontrada ainda na terça-feira, mas a segunda caixa - que regista os dados de voo - foi descoberta, esta quarta-feira, sem conteúdo, devido à força do impacto. A queda continua sem explicação.
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Ontem, o ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, anunciou que uma das caixas negras do Airbus A320 tinha sido encontrada pelos serviços de socorro.
Esta quarta-feira, o ministro avançou que a caixa negra está danificada, mas que ainda será possível analisá-la. A segunda caixa negra, com os dados do voo, ainda não foi localizada.
Já hoje, segundo o "New York Times", a segunda caixa negra, que teria o gravador de dados de voo, foi descoberta sem nada lá dentro, devido à destruição provocada pela força do impacto.
A Procuradoria de Marselha prevê que possam ser conhecidos hoje à tarde os primeiros resultados.
"Talvez tenhamos um primeiro resultado da análise da caixa negra ao final desta tarde, mas os exames complementares vão demorar vários dias", disse o procurador encarregado do caso, Brice Robin, a um grupo de jornalistas em Seyne-les-Alpes (sul).
A caixa negra que grava as vozes do 'cockpit' -- a outra caixa negra regista parâmetros técnicos -- foi recuperada na terça-feira do local do acidente e chegou hoje de manhã a Paris, onde vai ser analisada pelo Gabinete de Investigações e Análises (BEA) da autoridade de aviação civil de França.
"Apenas destroços e corpos"
Todas as 150 pessoas a bordo do avião da companhia alemã Germanwings que se despenhou numa zona remota dos Alpes franceses terão perdido a vida, naquele que será o pior acidente aéreo em França na última década.
O Airbus A-320 da Germanwings, a filial de baixo custo da companhia aérea alemã Lufthansa, despenhou-se num local de muito difícil acesso, a cerca de 2000 metros de altitude, perto da localidade de Barcelonnette, na região de Digne-les-Bains (sul de França).
O voo GWI9525, que fazia a ligação entre Barcelona (Espanha) e Düsseldorf (Alemanha), tinha a bordo 144 passageiros e seis tripulantes.
"Imagens terríveis nesta paisagem de montanha. Não resta nada, apenas destroços e corpos", escreveu na rede social Twitter o deputado francês Christophe Castaner, que sobrevoou de helicóptero o local do acidente. "É um horror. O avião está totalmente destruído", acrescentou o deputado.
Sobre as buscas nos Alpes, o procurador de Marselha afirmou que a prioridade é a identificação das vítimas, para o que vários especialistas forenses estão a ser transportados até ao local do impacto do Airbus A320.
"É indispensável, temos de começar por aí, devemo-lo às famílias das vítimas", disse.
Vítimas de várias nacionalidades
Segundo a Germanwings, 67 cidadãos alemães estavam a bordo do avião. Dois bebés figuravam na lista de passageiros, bem como 16 adolescentes alemães e dois professores que tinham participado num programa de intercâmbio escolar com estudantes espanhóis.
Foi também confirmada a notícia de que dois cantores de ópera alemães, Oleg Bryjak e Maria Radner (assim como o seu marido e bebé), estão entre as vítimas.
O Governo espanhol anunciou hoje que do total de 150 mortos, pelo menos 49 são espanhóis e já foram identificados, ressalvando que se trata de um número provisório. No entanto Germanwings, apontou hoje para 35 mortos espanhóis e 72 alemães.
A lista final, acrescentou o governante, "ainda não está finalizada devido a procedimentos aéreos", porque geralmente é o Estado de partida da companhia aérea que deve fornecer os dados, mas a situação tornou-se mais complexa dado que a companhia aérea é alemã e fazia um voo com origem em Espanha, sendo que o acidente deu-se em território francês.
Esta quarta-feira, segundo a Reuters, o governo francês afirmou que entre as vítimas há também um norte-americano, um marroquino e cidadãos da Argentina, Bélgica, Colômbia, Dinamarca, Israel Japão, México e da Holanda.
O Governo de Sydney anunciou também a morte de dois australianos.
O Governo britânico confirmou que três cidadãos do Reino Unido morreram no acidente.
Com base na lista de passageiros, o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, indicou que "não há nenhum nome português".
A chanceler alemã, Angela Merkel, e o chefe do Governo espanhol, Mariano Rajoy, deslocam-se, esta quarta-feira, ao local do acidente, onde vão encontrar-se com o presidente francês François Hollande.
Madrid decretou três dias de luto oficial pelas vítimas no acidente.
Oito minutos em queda acentuada
As primeiras imagens da zona do acidente mostram o avião totalmente pulverizado. "Vimos o avião completamente destruído, os corpos também destruídos, e não há um pedaço intacto da asa ou da fuselagem", descreveu Bruce Robin, procurador da cidade de Marselha, à agência Reuters, depois de sobrevoar de helicóptero a zona de impacto.
O CEO da Germanwings explicou que o avião caiu em oito minutos. Passou de 35 mil pés (10700 metros), onde se situava às 9.45 horas (hora em Portugal continental), para 6900 pés (1800 metros) em apenas oito minutos. "O contacto entre a aeronave e o controlo de tráfego aéreo francês interrompeu-se às 9.53 horas". "Não houve mais nenhum sinal depois disso", disse Thomas Winkelmann.
Foi o controlador aéreo quem deu o alerta. Não houve, por parte do piloto, nenhum sinal de que haveria algum problema com o aparelho.
Para o presidente da Lufthansa, companhia "mãe" da Germanwings, a queda do avião "é inexplicável".
"É inexplicável. O avião estava em perfeitas condições e os pilotos eram experientes", disse Carsten Spohr à imprensa em Frankfurt (oeste da Alemanha), em resposta a uma pergunta sobre se tinha mais informações sobre as causas do acidente.
Buscas e investigação em simultâneo
A par do inquérito judicial, foi igualmente aberto um inquérito pelo Gabinete de Investigação e Análise da Aviação Civil (BEA, na sigla em francês). "A prefeitura e os serviços nacionais estão a mobilizar-se para acolher as famílias que queiram vir ao local", acrescentou Cazeneuve.
O ministro viajou para a região de Digne-les-Bains (sul de França) e deu uma curta primeira conferência de imprensa em que anunciou que estão mobilizados "300 bombeiros", "300 militares da 'gendarmerie'" e "dez helicópteros e aviões militares", meios coordenados pela prefeitura de Alpes-de-Haute-Provence.
"A violência do choque dá-nos poucas esperanças" quanto à possibilidade de haver sobreviventes, admitiu.
A polícia francesa diz que a recuperação dos corpos vai demorar dias, devido às dificuldades impostas pelo terreno montanhoso. A operação de resgate recomeçou assim que o sol nasceu, esta quarta-feira. Tenta-se abrir caminho até à zona onde se encontram, quase pulverizados, os restos do Airbus A320.
A Guarda Civil espanhola está a visionar as imagens do embarque de passageiros para o A-320 no aeroporto de Barcelona no âmbito da investigação que está a ser feita ao acidente.
As autoridades espanholas criaram também uma equipa multidisciplinar para acompanhar os familiares dos passageiros que seguiam a bordo do avião, que se encontram em vários hotéis de Barcelona, e estão a fazer recolha de ADN para identificação das vítimas.
A Lufthansa encara a queda de avião como um acidente, embora o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, tenha declarado que "nesta fase, nenhuma hipótese pode ser afastada" para explicar o acidente do Airbus A320 da filial de baixo custo da transportadora alemã.
Segundo a Germanwings, o piloto tinha "mais de dez anos de experiência " e "mais de 6000 horas de voo, enquanto o avião tinha 25 anos e tinha sido submetido a uma revisão rigorosa no verão de 2013.
Hipótese de terrorismo "não é privilegiada"
"Todas as hipóteses devem ser analisadas", disse Cazeneuve à rádio RTL, explicando, contudo, que "há uma concentração de destroços do avião num espaço de um hectare e meio".
O governante adiantou que "é certamente uma área importante porque o choque foi significativo, mas demonstra que o avião provavelmente não explodiu", vincando que, assim, "a hipótese de terrorismo não é privilegiada".
Bernard Cazeneuve disse ainda que "dez médicos de medicina legal vão chegar durante o dia para a identificação dos corpos" e que estes especialistas vão trabalhar juntamente com as autoridades de investigação.
A companhia aérea de baixo custo cancelou por "razões operacionais" cerca de 30 voos em toda a Europa, depois de alguns membros da equipa não se sentirem aptos a voar.
Este é o primeiro grande desastre aéreo em França desde a queda de um Concorde da Air France a 25 de julho de 2000, pouco tempo depois da descolagem do aeroporto parisiense de Roissy-Charles de Gaulle. O acidente fez 113 mortos, incluindo 100 passageiros, nove membros da tripulação e quatro vítimas no solo.