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Portugal não vai, para já, proibir a caça, mas tem em curso um programa de monitorização das aves migratórias que conta com a colaboração dos caçadores, afirmou, ontem, o secretário de Estado do Desenvolvimento Rural e das Florestas. A Federação Nacional de Caçadores e Proprietários nega, contudo, ter recebido qualquer informação do Governo sobre esta matéria.
"Estamos a conduzir um programa de monitorização das espécies cinegéticas para ver como está a situação e para o qual contamos com a colaboração dos caçadores", afirmou Rui Nobre Gonçalves, em declarações à agência Lusa, durante uma visita à zona de caça associativa do Ciborro, em Montemor-o-Novo.
Esta afirmação é desmentida por Eduardo Biscaia, secretário-geral da Federação Nacional de Caçadores e Proprietários, que, em declarações ao JN, garantiu nunca ter sido contactado pelo Governo para participar num programa de monitorização. O responsável, que defendeu a interdição da caça no âmbito da luta contra a gripe aviária ou, em alternativa, a abertura dos coutos aos caçadores de terreno livre caso as aves migratórias tenham de ser abatidas, falava durante uma concentração de caçadores de terreno livre, em Pegões (Montijo) - ver mais noticiário na página 7.
O secretário de Estado explicou que não há necessidade de proibir a caça - como já acontece na Turquia, Roménia e Bulgária - porque Portugal não está incluído nas principais rotas migratórias das aves da Roménia e da Turquia, países onde foi detectado o perigoso vírus H5N1. O governante acrescentou que o Instituto de Conservação da Natureza está a colaborar para a recolha e análise de amostras de várias espécies, sobretudo patos, mas também pombos e tordos.
A ideia de que Portugal está fora das rotas migratórias das aves onde foi detectada a estirpe mais perigosa da gripe das aves foi confirmada pelo director da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Em declarações à Lusa, Luís Costa salientou que existem três factores que dificultam a chegada do vírus a Portugal através de aves migratórias "Primeiro, porque na nossa rota migratória não foi detectado o vírus. Segundo, porque o número de aves aquáticas que temos é reduzido comparativamente a outros países. E, terceiro, porque estamos no final dessa rota, por isso as aves podem nem chegar cá".
Existem três corredores principais para as aves migratórias da Europa, mas as rotas podem alterar-se devido a vários factores, como uma vaga de frio ou ventos fortes. Por isso, "nada garante que o vírus não possa aparecer. É uma questão difícil de avaliar", frisou Luís Costa.
Não se confirma mais um foco de H5N1 na Roménia
Não se confirma, para já, um terceiro foco de gripe das aves na Roménia. Os cisnes encontrados mortos junto ao lago Obretinul Mic, que faziam temer um terceiro foco de gripe das aves na Roménia, não são portadores do vírus H5N1, declarou, ontem, o ministro da Agricultura romeno.
Entretanto, o laboratório britânico de Weybridge confirmou que o vírus detectado em Ceamurlia de Jos, na Roménia, era da estirpe altamente patogénica, que já provocou mais de 60 mortes na Ásia e que foi agora localizada também na Turquia. Amostras recolhidas num segundo foco, em Maliuc, 60 quilómetros a norte de Ceamurlia de Jos, foram já enviadas para a Grã- Bretanha para análise.
Ontem, foi conhecida mais uma morte que se suspeita ser causada pela gripe aviária. Trata-se de um homem indonésio que morreu num hospital de Jacarta, noticiou o jornal Jakarta Post, que cita fontes hospitalares.
A vítima, de 56 anos, deu entrada no hospital, na segunda-feira passada, com sintomas de gripe das aves. Os primeiros testes foram negativos, mas mantém-se a suspeita. Com este caso, a Indonésia passa a registar seis mortes que se suspeita terem sido provocadas pelo vírus H5N1. Oficialmente, há apenas três mortes causadas pela gripe das aves.