A já apelidada maior digressão de sempre aterra, hoje, sábado,e amanhã, no Estádio Municipal de Coimbra, e promete não deixar indiferente nenhum dos 85 mil espectadores presentes. Cinco anos depois, pela primeira vez em dose dupla, os U2 estão de regresso a Portugal.
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Quando, às 21.30 horas, Bono, secundado por The Edge, Larry Mullen Jr. e Adam Clayton, subir ao gigantesco palco em forma de aranha metálica (após primeira parte dos Interpol), não estará apenas a consumar a quinta aparição em palcos portugueses. De Moscovo a Miami, a digressão "360º" - uma referência directa ao palco, localizado no centro do relvado, que permite uma visibilidade invulgar a qualquer espectador - tem colhido elogios unânimes, que alicerçam o estatuto dos U2 enquanto maior banda pop do planeta.
Nos 28 anos que separam a estreia, em Vilar de Mouros, dos espectáculos de hoje e amanhã em Coimbra, o Mundo pode ter dado muitas voltas, mas não seguramente mais do que as que foram dadas pelo quarteto.
De promissor banda rock especializada na defesa de causas perdidas, os U2 converteram-se numa espécie de multinacional pop capaz de rentabilizar tudo em que toca. E mesmo que a ostentação da digressão e o eficiente marketing que a rodeia não pudessem estar em maior contradição com os valores humanitários que Bono diz defender, nem por isso os milhões de adeptos do grupo deixam de consumir avidamente tudo o que se relacione com os autores dos emblemáticos "Boy" ou "Joshua Tree".
Só em Coimbra, a lotação para ambos os espectáculos, cifrada em 85 mil espectadores, esgotou com uma tal rapidez, em apenas sete horas, que deu azo a uma imediata febre especulativa, com burlas de grande proporções (bilhetes inexistentes vendidos na internet) a lesarem largos milhares de fãs.
Ao indisfarçável declínio criativo dos últimos discos, respondeu a banda irlandesa com uma digressão assumidamente megalómana, destinada a pulverizar todos os recordes anteriores. Mais do que uma estratégia para desviar as atenções sobre o ocaso musical, trata-se apenas de um sinal mais do arrojo que tem marcado o percurso do grupo há três décadas.
A diferença é que, até meados da década passada, os U2 canalizavam todos esses esforços para a reinvenção artística - apresentando a cada álbum uma faceta distinta e, até certo ponto, inovadora -, enquanto agora investe apenas na componente cénica, ciente de que, nos dias de hoje, com o definhamento da indústria discográfica, é no campo das digressões que tudo (leia-se lucros) se decide.
Por isso, a melhor maneira de sintetizar a "360º Tour" é mesmo recorrendo à calculadora, tão esmagadores são os números que a envolvem. Do palco (orçado, segundo estimativas não oficiais, em 78 milhões de euros), ao "cachet" cobrado - quatro milhões de euros pelos dois espectáculos em Portugal -, nada foi deixado ao acaso.
Em Barcelona, no concerto inaugural da presente digressão, em Junho do ano passado, o JN pôde testemunhar o profissionalismo irrepreensível da gigantesca estrutura que suporta os U2. Durante 130 minutos, também Coimbra deverá assistir à reedição de uma fórmula que, apesar da repetição exaustiva, não dá sinais de fadiga.