Três artistas instalaram-se em Torre de Moncorvo, no âmbito do projeto Vivificar, para documentar a comunidade. As exposições inauguram-se este sábado.
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Uma artista norueguesa, um fotógrafo e um realizador de vídeo, ambos portugueses, mudaram-se e passaram mais de um mês no concelho de Torre de Moncorvo para participar no Vivificar, um projeto que "através da arte, contribui para a reflexão sobre a importância de viver e ficar nos territórios de baixa densidade", explicou Virgílio Ferreira, responsável pela iniciativa.
Os artistas levaram uma lufada de ar fresco às localidades, onde ficaram a viver, onde hoje serão inauguradas as três exposições resultantes das residências artísticas.
três casas para artistas
Ine Harrang, artista norueguesa, pela primeira vez em Portugal, fixou-se na aldeia de Açoreira e vive na casa da presidente da junta de freguesia, Emília Lopes, que a recebeu de braços abertos, sem saber uma palavra de norueguês, nem de inglês.
Fábio Cunha ficou na vila de Torre de Moncorvo, em casa de Vítor Almeida, funcionário do Município, e José Pires rumou à Cardanha, onde já fez amizade com a Maria Nazaré, reformada, e a filha, Paula Valente, bibliotecária, em cuja casa tem vivido, como se fosse da família. Destas residências artísticas, que têm por objetivo o convívio e contacto entre artistas e a comunidade local através da fotografia, conjugada com a arquitetura e novos média, resultaram as exposições, "em que a comunidade está envolvida", afirmou Virgílio Ferreira.
A atividade mudou o quotidiano pacato das localidades. As mulheres de Açoreira têm vivido novas experiências com o convívio com Ine Harrang. "Foi diferente de tudo o que tinha vivido", explicou Emília Lopes.
Ine Harrang aproveitou as tradições ancestrais, como o cantar das almas ou o renegar o diabo, para se inspirar. "Nunca tinha vindo a Portugal e acabei numa pequena aldeia, onde tenho observado como vivem as pessoas. É boa experiência artística, mas ainda é mais rica em termos pessoais. Encontrei mulheres muito fortes, que se esforçam por preservar as tradições e a cultura", contou a artista que pintou quadros. "São para oferecer à aldeia. É uma forma de dizer obrigada", indicou.
O que mais encantou José Pires, produtor de vídeo de Vila Real, na Cardanha, foi "o tempo diferente" e "o som, sem o rebuliço da cidade". Foi à vivência "lenta" da aldeia que José foi beber elementos para produzir um documentário e uma instalação de vídeo "sobre o território, a paisagem e a cultura das pessoas", revelou.
ALUSÃO AO FOGO
"Fumo" é o nome do projeto, que está exposto na sede da União das Freguesia de Cardanha e Adeganha. "É uma alusão ao fogo, para mostrar que a chama são as pessoas daqui", explicou o artista que desde outubro vive "com um novo melómano, que é o sino da igreja, que dá as horas". A dona da casa onde se alojou, Maria de Nazaré, 80 anos, tem-lhe contado muitas histórias. "Isto é bom para mostrar a aldeia", explicou a idosa.
No ambiente mais urbano da vila de Torre de Moncorvo, Fábio Cunha, o fotógrafo de Lisboa, tem trabalhado com os alunos do 11.o e 12.oºº anos da Escola Secundária.
"Têm dado as suas ideias sobre o ambiente onde vivem, para o mostrar pelos olhos deles", explicou. Esta colaboração sempre marcada "pela mudança", destacou o fotógrafo, deu origem à exposição "Sala de Aula", que junta fotografias dos alunos feitas pelo Fábio Cunha e outras são da autoria dos estudantes. "Quem vier ver a exposição fica a conhecer a opinião dos jovens sobre a terra deles, através de imagens", referiu o fotógrafo.