Filme-concerto da banda portuguesa, "Sol posto", terá exibição única esta sexta-feira em 70 salas de todo o país.
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Setenta salas de cinema, de todo o continente e ilhas, farão esta sexta-feira uma exibição única de "Sol posto", filme-concerto dos Capitão Fausto que é a tentativa da banda de "dar a volta à incapacidade de tocar ao vivo através de uma proposta que comunique intensamente com o público", explicou ao JN o vocalista Tomás Wallenstein, que assumiu a produção do filme realizado por Ricardo Oliveira.
"Sol posto" é o segundo episódio de resistência à pandemia protagonizado pelos Capitão Fausto, depois de aproveitarem o confinamento para colaborarem no "cadáver esquisito sonoro" que foi a composição de "Cuca vida", álbum que resultou do encontro de vários músicos da editora Cuca Monga, como Luís Severo, Rapaz Ego ou os Zarco.
Desta feita, resolveram concretizar uma ideia que já "pairava" e que tinha agora o contexto ideal: "Sempre quisemos fazer um concerto que só acontece porque vai ser um filme, e não o contrário. E este era o momento, não direi para substituir tudo aquilo que perdemos este ano, mas de procurar uma alternativa na transmissão de sensações", disse Wallenstein.
Organizado em três partes - crepúsculo, noite e aurora -, o filme foi rodado ao longo de dez dias de setembro nas paisagens de Melides, respondendo à vontade de realizar o projeto numa residência artística, ou seja, "fazendo tudo num só gesto".
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O tom langoroso e escapista, assente num repertório de baladas extraídas de vários álbuns dos Capitão Fausto, busca uma espécie de equivalência com os tempos pandémicos, "mais de ponderação do que de ação", sendo o "Sol posto" o período ideal para o "descanso, a reconstrução e a preparação".
Diretos na Net esgotados
Inspirados por outros célebres filmes-concerto, como "Live at Pompeii" (1972), dos Pink Floyd, ou "The song remains the same" (1976), dos Led Zeppelin, "Sol posto" partiu também da consciência das limitações dos diretos via redes sociais que proliferaram em março e abril: "Foi uma resposta interessante dos artistas, num primeiro momento, mas rapidamente se esgotou", diz o vocalista. "Havia problemas de comunicação e a qualidade do produto deixava algo a desejar. Agora, o concerto pode ser visto em grande ecrã e é resultado de um olhar cinematográfico."
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Mesmo de um ponto de vista narrativo, "Sol posto" obedece a uma gramática, com introdução, desenvolvimento e desenlace, focando-se na ideia de "passagem do tempo" e convocando, como é habitual nas letras dos Capitão Fausto, elementos autobiográficos. É também um filme a apontar para o futuro, diz Wallenstein: "É importante manter a crença que uma parte da normalidade vai regressar e haverá novamente proximidade entre público e bandas".