"A carne mais barata do mercado é a carne negra", cantou Elza Soares, figura mítica da Música Popular Brasileira (MPB), na sua atuação no Primavera Sound, este sábado ao final da tarde.
Corpo do artigo
Sentada num trono e envergando um longo manto real, a artista que foi eleita pela Rádio BBC, em 1999, como "a cantora brasileira do milénio" e que esteve casada com o craque das pernas tortas, o lendário Garrincha, entremeou o espetáculo com mensagens contra o racismo e a violência doméstica.
"Você vai se arrepender se levantar a mão para mim", ameaçou ainda Elza no tema "Maria da Vila Matilde", e as mulheres da plateia ecoaram a frase a plenos pulmões. Enquadrada por tonalidades de samba e bossa nova, a decana do MPB contagiou o público com o seu carisma e vitalidade, aviando um concerto que merece muito mais do que o elogio condescendente que se costuma fazer aos artistas de idade provecta - foi do cacete, irmã!
8554866
Um pouco mais tarde, na pradaria, atuaram os Wand, banda de rock psicadélico de Los Angeles. E o público era bem mais específico do que aquele que assistiu ao concerto de Elza. Aqui a militância traduzia-se no predomínio de roupas negras, penteados indies e uma relação de comentários críticos e informados. A banda vive de contrastes: acelerações elétricas e suspensões em "feed back"; massa sonora em acumulação e uma voz fugidia, quase etérea. O vocalista, Cory Hanson, demonstrou pouco talento na comunicação com o público, parecendo sempre algo atrapalhado. Mas a malha dos Wand foi crescendo e conquistando os corpos, terminando numa longa faixa de improviso e distorção.