Gaspar Noé e Gael García Bernal são figuras de proa no festival espinhense, que decorre a partir da próxima segunda-feira.
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São 18 anos consecutivos a divulgar algum do mais excitante cinema contemporâneo, com um enfoque muito particular nas gerações mais jovens.
A partir de amanhã e até à próxima segunda-feira, o FEST - Festival Novos Realizadores/Novo Cinema volta a apurar o olhar, a partir da cidade costeira de Espinho, para o melhor que se faz na sétima arte fora dos grandes circuitos comerciais. Seja a produção nacional, que dispõe de um prémio específico, seja a cinematografia de paragens distantes. Como a longa-metragem boliviana "Utama", um "eco drama" que tem angariado boas críticas nos festivais por onde tem passado, incluindo Sundance.
Dois dados marcam a edição deste ano. Além da chegada à designada maioridade, assinala-se o regresso "à normalidade anormal", como resume Fernando Vasquez, diretor de programação do festival que diz ser "ainda cedo" para saber se a retoma plena após o tufão pandémico veio mesmo para ficar. As dúvidas não se prendem tanto com o regresso em força do público às salas, mas com a forma como "as instituições e os agentes vão adaptar-se" às mudanças bruscas que o setor sofreu no último par de anos devido aos constrangimentos da covid-19.
Ucrânia "presente"
Mais do que um festival de cinema convencional, o FEST sempre se assumiu como uma plataforma de contactos com profissionais de renome da sétima arte, através de masterclasses ou simpósios que permitem a troca de conhecimentos e experiência.
Este ano, na lista de convidados há dois nomes que dispensam apresentações. O cineasta franco-argentino Gaspar Noé - cujo mais recente filme, "Vortex", estreou há poucas semanas nas salas portuguesas - e Gael García Bernal, o ator mais reconhecido do novo cinema mexicano.
Outros profissionais com longos e recheados currículos vão também estar em Espinho nos próximos dias. Como o designer de som Will Files, ligado ao êxito de bilheteira "The Batman" e, mais recentemente, à série "Stranger things", ou Caprice Crawford, CEO de uma agência de deteção de talentos que já representou Burt Reynolds ou Orlando Bloom.
Fora da secção competitiva, mas passível de ser seguida com grande atenção, está o bloco programático Be Kind Rewind, que consiste numa extensão do Festival de Odessa, cancelado devido à guerra em curso na Ucrânia.
Os dez filmes daquele país que vão ser exibidos na próxima semana conquistaram os mais importantes prémios de cinema dos últimos anos e, segundo Fernando Vasquez, "ajudam-nos a perceber melhor a identidade ucraniana, que está no centro do atual conflito".
O estranho divórcio dos portuenses
As masterclasses, oficinas e simpósios organizados pelo FEST atraem participantes de proveniências muito variadas. Uma parte considerável são estrangeiros, da Europa aos Estados Unidos, mas, dentro do território nacional, há muitos inscritos de Lisboa, do centro e do interior. Bem mais residual é a participação do público do Porto, o que causa estranheza ao diretor de programação do festival. "Fazemos um grande esforço de divulgação em toda a região mas, até ao momento, isso não se tem traduzido em mais inscrições oriundas do Porto", lamenta Fernando Vasquez, que, como portuense, afirma não compreender esse estranho divórcio. "É difícil tirá-los de casa", graceja.
Já a ligação à comunidade onde está inserido é uma realidade. Esse vínculo deve-se às atividades desenvolvidas ao longo do ano pelo cineclube, com exibições semanais, mas também durante a realização do evento, com o segmento FESTival Village, que engloba sessões de cinema ao ar livre e atividades para as famílias.